O título deste post podia ser o nome de uma obra do Alberto Caeiro, mas não. Se há fenómeno que me intriga é o das pessoas que vão mais cedo para a praia só para reservarem lugar. Eu chego todos os dias à praia às nove e tal da matina e já há uma data de chapéus montados com várias toalhas à volta. Os donos, esses, só chegam um par de horas depois. E o que eu me pergunto é: o que é que ficam a fazer entre a montagem do chapéu e o voltarem de novo para a praia? Vão para casa dormir? Tipo "eh pá, vou acordar às seis e vinte da manhã para ir pôr o chapéu à praia, mas depois volto para a cama, que uma 'ssoa tem de descansar os ossos". Porque é que não ficam logo na praia? Porque é que não dormem na toalha? Porque é que não aproveitam? Ou será que vão para casa aspirar, mudar a água aos periquitos e pôr a vidinha em ordem, sempre com a segurança de terem o seu metro quadrado de areal reservado? Mas que necessidade é esta de guardar lugar? A praia é enorme, mais 50 metros para a direita, mais 50 metros para a esquerda, o que é que interessa? "Ah, não, eu tenho de guardar o meu lugarito perto da passadeira que é para depois andar menos!", deve ser esta a lógica que impera. E que cai por terra quando andam a fazer piscinas entre casa e a praia para montarem chapéus de madrugada. Confesso que me apetece enervar esta gente. Todos os dias olho para aqueles chapéus e tenho um desejo retorcido de mudá-los de sítio. Ou de esconder as toalhas, tipo enterradinhas na areia. Só para a rambóia. Mas temo que isto seja gente que leva a vida demasiado a sério, por isso é melhor não atiçar as feras.
Diria que esta coisa de guardar lugar (na praia, em restaurantes, onde for) é uma coisa tipicamente portuguesa, mas já tive várias provas de que não. Quando fomos a Cabo Verde, em Março, havia 350 mil placas espalhadas por todo o lado a dizer que não era permitido reservar as espreguiçadeiras da piscina. Todos os dias lá chegávamos, cedo, e não havia uma para amostra. A piscina vazia, as espreguiçadeiras todas reservadas (o meu homem chegou a ir trabalhar para a piscina às sete da manhã e já havia toalhas a marcar lugar!). Várias vezes optámos por nos sentar no chão, mas um dia falei com a funcionária que distribuía as toalhas e disse-lhe que, apesar das proibições, ninguém respeitava. Respondeu-me que não podiam fazer nada, que as pessoas não cumpriam, e que eles também não diziam nada nem removiam as toalhas. Peguei em duas toalhas ao acaso, tirei-as de cima de duas espreguiçadeiras e fui entregá-las à funcionária. Disse-lhe que me ia sentar ali, e que quando os donos aparecessem ela podia devolver-lhes as toalhas. Passou um bom bocado e eis que chegaram os donos. Um russo mal humorado que achou absolutamente inacreditável que eu lhe tivesse removido a toalha. Expliquei-lhe que não era permitido reservar espreguiçadeiras, que havia várias placas a informar sobre a proibição (depois de ele me ter dito 18 vezes que não havia proibição nenhuma), e que não era justo as pessoas deixarem ali as coisas, irem-se embora durante horas e ninguém se poder sentar. Perguntou-me de onde era, disse-lhe que era de Portugal, e respondeu-me qualquer coisa irónica como: "you, portuguese, are very nice people… very nice people", acompanhando a frase de um polegar apontado para cima. Se forem à Rússia e vos tratarem abaixo de cão, já sabem que a culpa foi minha, que dei a imagem de que os portugueses são uns trambiqueiros usurpadores de lugares.
Será que custa assim tanto perceber que se as pessoas só ocuparem determinados espaços durante o tempo em que, efectivamente, os estão a utilizar, há sempre lugar para todos? Ninguém está um dia inteiro sentado numa espreguiçadeira, nem na praia, nem numa zona de restauração. Que mania esta, pá!