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Channel: A Pipoca Mais Doce
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A bronca do Megixt

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Eh pá, bem sei que não há nada mais irritante do que frases como "estava-se mesmo a ver" ou "eu bem que avisei", mas NÃO SE ESTAVA MESMO A VER que o casamento do Harryzinho com a plebeia da Meghan ia dar para o torto lá para os lados da família real? Não era preciso ser a Maya para ver que o desastre ia acontecer, mais cedo ou mais tarde, por isso não percebo o ar de espanto que algumas pessoas fazem agora, com a notícia de que o casal se quer pôr ao fresco e ir morar para o Canadá. Achavam o quê? Que a Meghan tinha vida para aquelas chatices todas? Se calhar até achou que era giro na teoria, mas depois quando se viu lá metida acabaram-se-lhe logo os ideais monárquicos. Quem nunca?

Vamuláver, não vamos comparar a obra-prima do mestre com a prima do mestre de obras. Uma coisa é a Kate Middleton, que nasceu (ou foi treinada) para aquilo. Era o sonho dela, o sonho da mãe dela, o sonho da avó dela, o sonho da família inteira, todos queriam vê-la princesa. Deve ter passado a vida a
bordar, montar a cavalo, estudar piano e falar francês, para estar preparada na hora H.  E então lá esteve ela ali a aturar um namoro de 127 anos com o William, não fosse o gajo pôr-se ao fresco. Nãaaaaao, aguentou ali estoicamente, marcaçãozinha cerrada até ter o anel de noivado no dedo. Era o que mais faltava, perder os melhores anos da juventude e depois ele ir casar com outra. Está bem, está. Mas pronto, a Kate sempre se movimentou naqueles meios, não era da realeza mas era a modos que, era quase que como se fosse, dava-se muito com aquela gente, então por osmose já era real. Estava-lhe praticamente no sangue, até porque aposto que recebeu transfusões de membros reais, para apurar a raça e para ver se o mundo se esquecia que, mesmo sendo rica, era tão plebeiazita como qualquer um de nós.

Ora como sempre sonhou com esta vidinha, a Kate não se rala nada com as obrigações que tem. Não se importa de ir ao beija-mão à rainha, não se importa de viver para procriar, de ser bela, recatada e do lar, como se exige a alguém que pode vir a ser rainha. Porque aí está outra grande diferença: a Kate pode vir a ser rainha, se algum dia a Isabelinha bater as botas (cheira-me que é imortal) e se o Carlos, que entretanto já vai ter 175 anos na altura, não se lembrar que quer ser rei. Eu acho que é por isto que a rainha não morre, prefere arrastar-se ali pela eternidade do que ceder o trono à Camila, Deus nos livre e guarde. Já a Meghan, muiiiiiiiiiiiiito dificilmente poderia vir a ser rainha, era preciso uma fatalidade que matasse, de uma só vez, os não sei quantos aspirantes a rei que estão antes do Harry. E portanto, se é só para ser duquesa de Sussex, que também nem é uma zona assim tão fixe, não vale a pena o desgaste.

Convenhamos, não deve ser fácil ter de passar o tempo a fazer vénias àquela gente toda. Para mim, que tenho as costas todas lixadas, havia de ser bonito. Baixava-me três vezes e à quarta já não me levantava. Não deve ser fixe ter a rainha a mandar tupperwares com as sobras do palácio. Ou a ir lá a casa passar um dedo nos móveis para ver se há pó acumulado. Não deve ser fixe ter o puto a chorar e aparecer a Camila a dizer que devem ser cólicas, ou dentes, ou frio, ou fome, ou calor ou leite fraco. Não deve ser fixe querer ir ao Colombo lá do sítio, só para ver as modas e desanuviar a cabeça, e ter 67 jornalistas à perna. É uma mulher moderna, independente, veio lá de Hollywood e foi enfiar-se num filme destes. Lá está, na teoria parecia mais giro.

Vai daí, e como qualquer boa mulher que se preze, conseguiu dar a volta à cabeça do homem e lá o convenceu de que era melhor porem-se a andar para o fresco do Canadá (onde ela viveu um porradão de anos, enquanto estava a gravar a série "Suits"), que a neve é boa para evitar as bronqueolites do puto, que o pediatra garantiu que a proximidade de alces é óptima para o desenvolvimento das crianças, e rebeubéu pardais ao ninho. Tanto lhe moeu o juízo que o rapaz acabou por dizer "tá bem, deixa-me lá ver se consigo passar amanhã ao almoço no palácio para dar a notícia à minha avó" . Na verdade, ele não disse "à minha avó", ele disse só "à avó", que os betos são assim, falam dos parentes como se também fossem nossos. "A mãe". "O pai". "A avó".

A avó fez o que qualquer boa avó faz. Disse que sim, pois então, tem mais é que viver a vida dele, que tem pena mas percebe, em calhando não era preciso irem para tão longe, que depois não fica em caminho para os almoços de cozido em Buckingham, às quartas, mas pronto, vamos lá tentar e ver como é que isto corre. Claro que isto é o que lhe sai boca para fora, porque boca para dentro a velha deve estar a pensar que é bom que o Irão se apresse a bombardear os Estados Unidos e que, já agora, falhe o alvo e atire mais acima, que também não se perde nada. Pudesse ela e aplicava uns tabefes bem dados nas fuças da Meghan, que é para não pensar que vem agora armadinha em esperta e cheia de esquisitices. Ai não querias ser princesa? Então toma lá um chapadão real na tromba a ver se te acalmas e se te passam as vontades próprias. Onde já se viu? Gastou uma pessoa um dinheirão a fazer-lhes uma boda à moda antiga, com tudo do bom e do melhor, e agora é isto. Soubesse ela o que sabe hoje e eles que fossem casar numa quinta qualquer lá no correspondente ao Paio Pires de Inglaterra.

Coitada da senhora, também tem sido uma vida de ralações. A esgroviada da Sarah Fergunson, a libertina da Diana, a sonsa da Camila - ali uma vida inteira a dar em cima do Carlos -, o próprio do Harry, sempre meio estroina, que a pessoa não podia tirar-lhe os olhos de cima um segundo, e agora a Meghan, quando finalmente parecia que as coisas estavam a acalmar. De facto, até nas melhores famílias há peixeirada da grossa.

Pela parte que me toca, sinto-me um bocado dividida. Por um lado, percebo a Meghan, uma pessoa que sempre foi independente e toda prá frente. Mordomias à parte, não deve ser fácil viver aquela vidinha todos os dias, sempre cheia de regras e cobranças. Por outro, a mulher não sabia ao que ia? Não tem acesso à net? Não viu séries e documentários? Não sabe como aquilo é? Não viu como a Diana passou as passinhas do Algarve? Está bem que a paixão falou mais alto e coiso e tal, mas por que é que agora é ele, e não ela, a ter de ceder por amor, a abrir mão da vida que sempre conheceu? Atenção, não estou a julgar nem um nem outro, nem sequer tenho especial simpatia pela monarquia. Em boa verdade, dá-me igual que morem num palácio ou que o Harry tenha de ir trabalhar para a Uber para sustentar a família. Não venha é depois pedir mesada à rainha, que com a velha não fazem farinha.


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