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Tragédia do Meco ou "parem de nos causar embaraço"

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A Tragédia do Meco foi um dos casos mais mediáticos de sempre em Portugal. Não é todos os dias que seis jovens perdem a vida, assim, de forma tão estranha, tão cruel, tão inexplicável. Chocou-me imenso na altura (escrevi sobre isso em 2014)  e continua a chocar-me agora, de cada vez que se assinala mais um ano. E se a mim me choca, nem sequer consigo imaginar como se sentem aqueles pais, que não só perderam os filhos como andam, desde então, a lutar por justiça. A lutar para que alguém lhes explique o que realmente aconteceu - porque continua tudo no campo das suposições - e para que alguém assuma os muitos erros que foram cometidos ao longo de todo este processo.

A luta levou-os até ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que lhes deu razão, e que confirmou o que já se sabia: que a investigação levada a cabo pelo Ministério Público foi pobre e incompetente. Entre outras coisas, recriminam o facto de:
- O Ministério Público por só ter atribuído a investigação à Polícia Judiciária ao fim de dois meses (até lá esteve entregue à Polícia Marítima);
- A casa do Meco não ter sido selada após os acontecimentos: qualquer um entrou ali, a moradia inclusivamente foi limpa e só ao fim de um mês foi feito um exame forense;
- A roupa e o computador do Dux (único sobrevivente) só ter sido recolhida ao fim de TRÊS MESES!
- Terem demorado dois meses a fazer a reconstituição do acidente e a recolher testemunhos dos vizinhos;

Eu, que não sou propriamente uma especialista no assunto, acho que isto foi encarado com uma leveza e leviandade inexplicáveis. Morreram seis pessoas. Seis. Como é que, desde logo, isto não foi levado com mais seriedade? Como é que não se consideraram mais hipóteses? Um crime, por exemplo? Não estou a dizer que foi, sei tanto como vocês, a minha teoria é que aqueles miúdos foram só alvo de uma praxe estúpida, mas todas as teorias tinham de ser postas em cima da mesa. Mas não, contaminaram toda as provas, deram tempo para que tudo pudesse ser adulterado, e ao fim de meses lá se decidiram a levar a coisa a sério. Meses esses que teriam sido imprescindíveis para apurar uma data de coisas importantes.

É isso tudo que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos condena. Basicamente, vem dizer que a justiça portuguesa foi incompetente e condenou o Estado a pagar uma indemnização de 13000€ aos pais. Atenção, não é 13000€ a cada um, na verdade é apenas a um dos pais que, pelo que li algures, se dispôs a dividir o valor por todos os outros. E se isto já me envergonha bastante, envergonha-me ainda mais que o Ministério da Justiça admita a hipótese de apresentar recurso para se escusar a pagar este valor. A sério? Mesmo a sério? Depois da forma vergonhosa como encararam este caso, querem mesmo privar os pais deste dinheiro? 13000€ não vai mudar nada na vida deles, valor nenhum paga a vida de um filho. Mas só em despesas processuais, este pai gastou mais de 7000€, presumo que os restantes tenham gasto mais ou menos a mesma coisa. Serem ressarcidos disso era o mínimo dos mínimos.

O que mais importa a estas famílias é saber o que aconteceu e isso, provavelmente, nunca vai acontecer. Vão viver para sempre com esta angústia, com a sensação de que não foi feito tudo, que as pessoas que deveriam ter lutado para apurar a verdade não fizeram o trabalho que lhes competia. E isso, somado à dor de já cá não terem os filhos, deve ser uma coisa insuportável de carregar no dia a dia. Esta decisão do Tribunal Europeu só veio reforçar isso, que houve falhas e que é preciso apurar responsabilidades. Que isso seja feito e que continuem a embaraçar-nos a todos, enquanto portugueses.








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