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Dicas para entrar num avião sem achar que se vai falecer

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Não me lembro exactamente quando é que o medo de andar de avião começou. Na verdade, acho que sempre lá esteve, nunca me senti propriamente muito confortável enfiada numa latinha com asas, sem o chão debaixo dos pés. Mas a coisa foi-se agravando. Porque fui ganhando mais consciência, porque houve vários acontecimentos que mudaram a forma de se andar de avião - 11 de Setembro, pilotos suicidas, etc e tal -, porque fui mãe. Enfim. Eu vou, nunca deixo de ir, porque o prazer de viajar é maior do que o medo, mas não sou, nunca serei, daquelas pessoas para quem andar de avião é como andar de autocarro, e ainda mal se sentaram e já roncam e largam um fio de baba. Odeio pessoas dessas.

Começo a sofrer uns dias antes, os meus níveis de ansiedade aumentam automaticamente. E, mentalmente, começo a despedir-me das coisas. Tipo, vou a caminho do aeroporto e a pensar "é a última vez que passo nesta rua". Sim, sou dramática, nada a fazer. Nos últimos anos a técnica (mais ou menos) infalível tem sido tomar um drunfozito (receitado pelo médico) meia hora antes de entrar no avião, a ver se a viagem é mais calma. Não é nada de muito potente, não me deixa inconsciente, mas é o suficiente para me tirar a ansiedade, para não ir o tempo todo a cravar as unhas no braço ou a dizer coisas estúpidas, tipo "o motor parou!!!!!!". E, devo dizer, a minha qualidade de vida durante os voos melhorou substancialmente.

Por mais que me venham com estatísticas, que me digam que é raríssimo um avião cair, que mais depressa me espeto de carro... não há volta a dar. É irracional, não vale a pena. Aquele medo de que o avião vai cair, o piloto vai perder os sentidos e espetar-se contra uma montanha altíssima, que há um terrorista em cada banco ou que os motores vão todos entrar em curto circuito ao mesmo tempo e o avião vai explodir são pesadelos constantes na minha cabeça durante um voo. Nada a fazer.

Para mim este medo não é impeditivo. Lá está, nunca deixei de viajar, mas há quem deixe. Há quem não consigo pôr um pé dentro de um avião, ou quem até ponha mas vá o caminho todo a chorar, a tremer, em verdadeiro pânico. Recebo MUITAS mensagens de pessoas a perguntar como superei o medo de voar. Bem, não superei, só arranjei um método que funciona para mim. Mas, pessoa curiosa que sou, quis perceber de onde é que pode vir este medo e tentar arranjar uma solução que não envolva o consumo de drogas (leves ou pesadas). Falei com o Dr. Nuno Mendes, diretor clínico da Oficina de Psicologia, psicólogo e psicoterapeuta, que também me deu umas dicas que vou já por em prática na próxima viagem. 

Em primeiro lugar, o Dr. Nuno reforça que este medo de voar é, realmente, irracional e que quem sofre desta fobia fica automaticamente ansioso só de pensar em andar de avião. “A pessoa sente-se em profundo desconforto físico e mental e tenta várias formas de lidar com este medo. A mais comum é evitar todas as situações em que tenha de entrar num avião.” Pois, claro que isto é o mais fácil, mas é também o que nos limita MUITO em termos dos destinos que podemos visitar. Se eu já me entedio a ir de carro até ao Algarve, quanto mais por esse mundo fora. E o tempo que se demora? Na na na.


E, claro, eliminar o avião acarreta outras problema. "O problema de se evitar é que, enquanto estratégia a curto prazo, apenas reforça e piora a ansiedade a médio e longo prazo”, explica o psicólogo. “Outras pessoas procuram anestesiar a ansiedade através de ansiolíticos e ingestão de álcool. Mais uma vez, esta estratégia de curto prazo tem graves consequências a longo prazo". Upppsssssss...estou lixada. Em minha defesa, reforço que tomo um calmante muiiiiiito fraquinho e que em algumas viagens até tomo só metade. Para o álcool ainda não me deu, mas se a coisa se agravar não é um cenário que esteja afastado.

Para o Dr. Nuno, o melhor é enfrentar o medo e procurar algumas técnicas para regular a ansiedade, que não passem por enfiar 350 comprimidos no bucho antes de embarcar. Diz o Dr. Nuno que é preciso passar por um processo de psicoeducação para conseguir lidar com este medo a longo prazo, ou seja, aprender como funciona esta fobia, conhecer o avião e, até mesmo, perceber como é a experiência de voo da pessoa. Só assim é que os terapeutas conseguem encontrar um caminho para tratar, de vez, a fobia. 

Mas e coisas a curto prazo, que a pessoa possa ir fazendo uns dias antes de viajar ou até mesmo no próprio do avião? Pois, diz o Dr. Nuno existem algumas técnicas, mas que devem ser enquadradas num plano de tratamento mais profundo. No entanto, podem ajudar alguma coisinha, por isso aqui vão alguns exemplos: 

— Fazer contas de somar e subtrair ou planear mentalmente algum projecto pensando nos vários pormenores
 “Ao fazer isto, a pessoa vai activar as suas áreas corticais balanceando a activação excessiva da amígdala, que é uma das estruturas do cérebro responsáveis por essa resposta de alerta do cérebro quando está em ansiedade”, diz o Dr. Nuno. 

— Respiração abdominal
 “Esta é uma forma de respirar que permite a regulação do sistema nervoso autónomo. O que se pretende com a respiração abdominal é imaginar que a nossa barriga é um balão. Depois, inspira em três segundos, dilatando o abdómen, depois expira em seis segundos, contraindo o abdómen. A ideia é que a respiração deixe de ser superficial e rápida para passar a ser mais profunda e lenta. Este processo ajuda o cérebro a relaxar.”

— Técnicas de visualização 
“Imaginar um lugar seguro é uma técnica que deve ser treinada algumas semana antes do voo, de forma a facilitar que a pessoa se imagine num lugar de conforto e segurança com tanta intensidade durante  a viagem que o seu corpo relaxa como se lá estivesse.”

— Meditação
“A prática regular de meditação pode ajudar a lidar com os pensamentos mais assustadores, começando a perceber que os pensamentos fóbicos são apenas pensamentos e diminuindo a reactividade emocional aos mesmos”, diz o terapeuta. “Ou seja, é poder pensar sobre o avião ou todos os pensamentos assustadores, mas sem ficar logo com um "nó na barriga". A prática de mindfulness permite ainda perceber o paradoxo existente entre aceitação e controlo. Ou seja, quanto mais tentamos controlar como é que o avião se vai comportar e como nos vamos sentir, mais facilmente a ansiedade ganha espaço. Se aprendermos a aceitação e como abdicar de controlo ganharemos maior serenidade em relação à perturbação ansiosa.”

Posto isto, meus bons amigos, não me venham para aqui voltar a dizer que sou uma medricas e coisas do género que isto, afinal, é mesmo uma coisa séria, sim? E que afecta muita gente. Se vos afectar ao ponto de não conseguirem mesmo pôr um pezinho num avião, o melhor mesmo é procurarem ajuda especializada. De resto, se tiverem outras dicas muito espectaculares para ajudar a acabar com este pânico, cheguem-se à frente e partilhem. 

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