Ontem fui almoçar com uma amiga e estava eu a atacar a minha pizza de atum e camarão, quando ela decidiu partilhar comigo uma teoria recém descoberta sobre o mundo das relações. Divorciada há pouco tempo, traçou-me todo um paralelismo entre a procura de um namorado e a procura de um novo emprego. Dizia ela qualquer coisa como: "eu devia ter feito como toda a gente faz, só me separar quando já tivesse outra pessoa em vista. Mas não, separei-me para ficar sozinha e isso não é bom. E quanto mais tempo passa pior é, porque começam a olhar para mim de lado, do género "qual será o problema desta para se ter separado e continuar sozinha?". É como ir a uma entrevista de emprego. Se já tivermos um trabalho mas andarmos à procura de um melhor, isso é mais valorizado. Mas se formos a uma entrevista de emprego e dissermos que estamos no desemprego há seis meses, vão achar esquisito". Para reforçar a sua posição, perguntou-me "conheces mais alguém como eu? Que se tenha separado e que esteja sozinho? Eu não conheço. As pessoas saltam de uma relação para a outra".
Dei por mim a pensar um bocadinho no caso.
Não, de facto não conheço ninguém, na minha faixa etária, que se tenha separado e que esteja sozinho. Quase toda a gente que acaba um casamento ou uma relação mais séria e duradoura é porque já tem outra coisa em vista. Somos assim, bichos de hábitos e pouco dados à solidão. Não sei se é defeito se feitio. Mas sei que é uma merda esta coisa de não conseguirmos estar sozinhos, geralmente resulta sempre em más opções. Idealmente, devemos deixar uma relação porque já não nos preenche, porque já não nos realiza, porque nos apetece viver outras coisas. Essencialmente, porque já não nos faz feliz. Mas vamos ficando, porque uma coisa são os sonhos, outra é a vida real. Há um estudo que indica que 70% dos casais continuam juntos por razões que não o amor/paixão. Ou é porque há filhos e acham que juntos lhes conseguem dar mais estabilidade, ou é porque há dependência financeira, ou é porque dá jeito ter um companheiro para a vida social, ou é porque há medo da solidão, ou é porque há comodismo, ou é porque há convenções sociais e conceitos formatados que nos fazem ir andando... há mil e uma razões, mas poucas ou nenhumas são aquelas que nos deviam fazer ficar.Conheço inúmeras pessoas que são infelizes nas suas relações, mas que não têm coragem de mudar. E é mesmo disso que se trata, coragem. Para largar tudo e começar do zero. A minha amiga dizia-me ontem que o mais fácil era voltar para o ex-marido, que sente muito carinho por ele. Mas, ao mesmo tempo, e com muita lucidez, reconhece que já não se sentia feliz e que tem vontade de viver outras coisas. Mesmo que se sinta sozinha muitas vezes, mesmo que as tais coisas boas demorem a chegar. E eu acho que ela é mesmo corajosa e super focada, porque não é fácil sair de casa com um filho pequeno, largar uma vida confortável, deixar para trás uma história com uma década. Custa muito, muito mesmo, abrir mão de tudo isso. Sobretudo quando, lá está, é para se ficar sozinho e não para entrar a pés juntos numa nova relação.
Convenhamos, isto é tudo muito bonito, o "se não estás bem, muda-te", mas aos (quase) 40 anos as coisas não são como aos 30. Muito menos como aos 20. Não se larga uma relação por dá cá aquela palha, sobretudo quando há filhos metidos ao barulho, quando há alguém que já nos acompanha há tanto tempo, que é parte de nós. Pensa-se uma, pensa-se duas, pensa-se mil vezes e, quase sempre, opta-se por ficar. Pode não ser o melhor para nós, mas acreditamos ser o melhor para todos. Até porque a perspectiva de deixar tudo para ficarmos sozinhos, a olhar para o tecto, deixa-nos assim com um nó no estômago. Mas quando há alguma coisa (ou, neste caso, alguém) a motivar-nos, a coisa fica mais fácil. Não acredito que seja uma decisão tranquila, até porque se deve entrar ali naquele confronto do "fico com o que já tenho e que já conheço tão bem, ou passo para uma coisa nova que tem tanto de sedutor como de assustador?", mas é seguramente mais fácil.
É por isso que a teoria da minha amiga faz algum sentido. O ideal era que deixássemos uma relação apenas por nós, mas também é verdade que isso é o mais difícil. Até porque na minha idade o mercado está muitíssimo mais complicado, não há homens por aí ao pontapé. Os que ficam disponíveis são os que se separam/divorciam, e assim que chegam ao mercado são logo fisgados, nem dá tempo para arrefecerem. É preciso ter um olho de lince para os conseguir apanhar. Assim de repente, acho que só tenho um amigo divorciado que ainda não tem ninguém. O que, claro, nos leva à pergunta: hmmmm, qual será o problema dele? Já tentei apresentá-lo à minha amiga divorciada, mas a miúda é alta comóraio, mais de 1,80m, e fechou a porta ao departamento dos mais baixos. O que complica MUITO a coisa. Hoje enviou-me uma mensagem, meio a sério meio a brincar, a dizer que se soubesse o que sabe hoje tinha ficado quietinha e que, a partir de agora, vai mudar de estratégia: vai deixar de perguntar aos amigos se têm amigos solteiros e vai passar a perguntar se têm amigos casados fartos da mulher. Ah ah ah! Tenho para mim que a solução poderá passar mais por aqui. É mais ou menos como investir naquelas empresas que estão à beira da falência. É preciso é ver a coisa como uma oportunidade de negócio. Pode correr muito bem, pode correr muito mal, nunca saberemos. =) At the end of the day, o que importa é que sejamos felizes. E que tenhamos a certeza que fazemos tudo para o ser.