Sempre que regresso de viagem e chego ao aeroporto de Lisboa tenho esperança de ter todo um mundo de gente à espera. Sempre gostei de ir buscar pessoas ao aeroporto, sendo um gesto de nada, acho que é uma bonita prova de amor ou amizade. E, por isso, tenho sempre essa esperançazinha de que haja cartazes, flores, fogo de artifício, um urso de peluche em tamanho gigante, uma flash mob, qualquer coisinha. Geralmente, não há nada. Não me lembro da última vez que alguém me foi buscar ao aeroporto o que, provavelmente, diz muito sobre a minha vidinha. Sei sempre que não haverá ninguém, mas não deixo de lançar sempre uma espreitadela discreta à multidão, em busca de uma cara conhecida, ao mesmos tempo que avanço decidida com a minha bagagem, muito ao estilo "pfffffff, posso perfeitamente apanhar um Uber, não preciso que ninguém esteja aqui à seca por minha causa". Quando estou do outro lado, quando sou eu à espera de alguém, gosto de ficar por ali a ver as reacções alheias, a assistir aos reencontros. Não sei se já se fez este estudo, mas tenho para mim que a zona de chegadas do aeroporto é provavelmente, uma das zonas de maior concentração de amor em Lisboa. E isso é fofinho.
Levar alguém ao aeroporto também é uma coisa bonita. Há uma cena do "When Harry Met Sally" - uma das melhores comédias românticas de todos os tempos- , em que o Harry (Billy Crystal) diz à Sally (Meg Ryan) que quando se leva alguém ao aeroporto, isso significa o início de uma relação, e que é por isso que ele nunca leva ninguém ao aeroporto quando começa um namoro, porque se um dia deixar de o fazer sabe que haverá cobranças da outra parte. Uma visão um bocadinho exagerada, mas não deixa de ter alguma razão. Acho que quando deixamos de levar ou apanhar alguém no aeroporto, é porque a coisa já está meio morna, já não há aquela dor de ver a pessoa partir (provavelmente até estamos desejosos de a ver pelas costas) ou aquela ânsia de a ver regressar. E então não se vai. Há muito que vou sozinha para o aeroporto, há muito que volto sozinha do aeroporto. Há coisas piores na vida, e viajar é sempre bom (ir e, sobretudo, voltar) mas amachuca um bocadinho o coração.