Foi há uns dez anos, talvez mais, que quando tentei regularizar uma situação na Segurança Social descobri que tinha uma dívida por causa dos recibos verdes. Basicamente, abri actividade quando era miúda, para fazer aqueles trabalhos de hospedeira em eventos. No primeiro ano tem-se isenção, nos restantes não. E apesar de eu não ter passado recibos nos anos seguintes (ou seja, não facturei nada, zerinho), ninguém me disse que se eu não fechasse a actividade tinha de pagar na mesma contribuições para a Segurança Social. Moral da história, quando comecei a trabalhar como jornalista, fui fechar a actividade a recibos verdes e descobri que devia uma fortuna à SS (os juros são lixados). Reclamei. Que era uma injustiça, que nesses anos eu não tinha ganho dinheiro nenhum, que nunca ninguém me tinha informado que havia uma dívida para pagar, que não fazia ideia, mas não adiantou. Disseram-me o que disseram ao Passos Coelho: não se pode usar o desconhecimento da lei como justificação para faltarmos aos nossos deveres. Por isso paguei, calei e aumentei o meu odiozinho de estimação à SS aí em 459%. Mas eu não sou Primeiro-Ministro. Nem sequer almejo nenhum cargo político. Caso contrário, trataria de saber como é que estava a minha vidinha burocrática ao mais ínfimo pormenor. Porque se eu não o fizesse, alguém o faria por mim. Um jornalista, por exemplo. E uma dívida de 5000€, que até nem é um valor assim por aí além, de repente pode custar-lhe o cargo. Foi inocente, Sr. Passos. Ou então não. Esperou que a dívida prescrevesse e deve ter rezado a todos os santinhos para que ninguém viesse a descobrir. Ups, descobriram. E agora vai ter de carregar esta cruz. É que mesmo que diga que já pagou, de livre e espontânea vontade, do rótulo de trafulha já não se livra.
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