Aquelas trivialidades que se dizem quando nos tornamos pais - "a minha vida mudou", "agora sei o que é o amor", "dava a minha vida por ele" - são trivialidades porque são verdadeiras. É mesmo assim. Entra um novo ser no nosso mundo e a vida, como a conhecíamos, nunca mais volta a ser a mesma. Não sei se melhora para toda a gente, quero acreditar que sim, espero que sim. A minha melhorou indubitavelmente e nada, NADA, me faria voltar ao antes-de-ter-filhos. Há um ano, por esta altura, estava grávida de 34 semanas e muito pouco preparadinha para ser mãe. Não estava em pânico, não tinha pesadelos, mas sentia aquela ansiedade, aquele medo do desconhecido, a insegurança, o "será que vou falhar?". Faltava um mês para o Mateus nascer, um mês que, achava eu, era suficiente para me ambientar completamente à ideia de ter um filho. Um FILHO. Caramba, que palavra gigantesca. Mas o Mateus não quis esperar. Às 34 semanas achou que já chegava de clausura, começou a sentir-se apertado no T-zero que lhe arranjei, e aquele hamburger que comi ao almoço não deve ter ajudado muito. As instalações ficaram ainda mais pequenas e o Mateus, sentadinho há uma vida, decidiu sair. Quando percebi que ia acontecer, quando percebi que afinal já não tinha mais um mês, fiquei entre o eufórica e o aflita. Que bom, ia conhecê-lo mais cedo. Que merda, e se ele não estivesse bem? Lembro-me de perguntar várias vezes às enfermeiras se ele já estaria pronto. Se não teria de sair da barriga directamente para a incubadora. Não me souberam dizer muito bem, dependia de muita coisa, mas ele veio fino, nada de incubadora. Dois quilos enroladinhos numa manta que me aproximaram da cara para que lhe desse um beijinho. Que estranho. Que sensação estranha. Com que então era aquela coisinha que me espetava os pés nos rins. E fazia a minha barriga saltar. Com que então era aquela coisinha de quem eu já gostava perdidamente há tanto tempo. Ali estava ele, a olhar-me desconfiado. Depois da estranheza inicial, comecei a sentir um amor esquisito a instalar-se e a ocupar-me o coração todo. Estava desgraçada,. Percebi que aquele miúdo ia fazer de mim o que quisesse. Pior, percebi que já não conseguiria mais viver sem ele e que, de mãos dadas com o amor desmesurado, o medo se tinha instalado também na minha vida.
Este ano passou a correr. Mais uma trivialidade, mas é mesmo assim. Ainda ontem estava a pesar o Mateus todos os dias, para garantir que não baixava dos dois quilos, e hoje já tem quase dez em cima do lombo. E seis dentes. E caracóis. E uma simpatia infinita. É um querido, um bem-disposto, um sorridente que diz adeus a toda a gente. Todos os dias ouço um "ele é tão simpático" e fico radiante, porque significa que é um bebé feliz. Também grita, chora, faz fitas, tem os seus momentos, mas tive uma sorte do caraças, porque se há bebé fácil de levar é este.
Olho para trás e já morro de saudades. Sou uma pessimista por natureza, penso que cada dia que passa é um dia mais perto de ele me odiar, de se trancar no quarto, de querer sair de casa, e sinto um murro no estômago. Sofro muito por antecipação. E, por isso mesmo, agarro-me às coisas pequenas. Fico a olhar para ele a dormir no meu colo e tento memorizar tudo. O cheiro, a mãozinha no meu peito, as pernas cruzadas, os pés pequeninos, a respiração. Preciso de gravar tudo, na mente e no coração, por isso olho muito fixamente. Para me lembrar que um dia ele foi a coisa mais querida do mundo e não apenas um adolescente de mal com a vida.
O Mateus é a melhor coisa. É a torrada do meio, é a perna do frango, é o bolo de morango e ananás do Frutalmeidas, é um Milka Tuc, é uma Cola-zero-com-gelo-e-limão, é um golo do Benfica. É essas coisas todas juntas, só que melhor ainda. É uma paixão avassaladora que faz com que, todos os dias, me apeteça engoli-lo, que me faz ranger os dentes de raiva boa. Que saudades de quando ele era só meu. Agora é do mundo, mas... vai ser sempre mais meu. Cá em casa inventei a "meia-hora dos beijos". Todos os dias rapto-o para a minha cama e ficamos ali só os dois, comigo a lambuzá-lo e ele cada vez com menos paciência. Quer explorar o mundo. Mas é a vida, não tem outro remédio. Canto-lhe, dou-lhe beijos, conto-lhe o quanto gosto dele, explico-lhe que não há paixão maior. Ele ri-se muito, puxa-me os cabelos, baba-me, faz festinhas. A minha definição máxima de felicidade é isto, esta meia-hora diária que foge das obrigações/banhos/jantares/vida-em-geral e em que somos só nós os dois agarrados. Estas serão sempre as melhores memórias.
Não sei se o Mateus está connosco SÓ há um ano ou JÁ há um ano. Sei que isto está a passar demasiado depressa e que devia haver um qualquer botão para carregar e fazer uma pausa. O Mateus já gatinha a mil à hora, já se põe de pé, já diz papá e mamã, já sabe que há uma palavra chamada "não", apesar de se estar nas tintas para ela. O que é feito da minha bolinha de dois quilos? Há um ano a minha vida mudou drasticamente, porque passou a ser Natal todos os dias. Passei a acordar e a pensar "tenho o Mateus", que é o maior boost de energia/alegria que alguém pode ter. Vê-lo a rir, a esticar os braços para lhe dar colo ou a dizer "ma-ma-ma-mã" dá completamente cabo de mim. Mas de uma forma boa, a melhor forma de todas.
Parabéns, meu amor. Pela parte que me toca, estarei sempre aqui para te dar colo e mimo. E para te puxar as orelhas de vez em quando. Que sejas sempre muito feliz, que a vida te sorria e que Deus te proteja.
(esta ideia foi roubada do Pinterest. Assim que soube que estava grávida decidi logo que tinha de fazer igual)