No nosso hotel em Cabo Verde estava a ser gravada uma nova série da SIC. Andavam por lá algumas caras conhecidas, incluindo o Manzarra, que é uma jóia de moço. Não somos amigos, já nos cruzámos algumas vezes e, talvez por nos encontrarmos ali, num sítio improvável, acabámos por trocar meia dúzia de palavras um dia ou outro. Num desses dias, estava eu no bar à espera de uma bebida quando comecei a ouvir a conversa de um grupo de portugueses na mesa atrás. "Já viram? Na televisão é só sorrisos, sempre a arreganhar a tacha, depois aqui é isto, não fala a ninguém". Referiam-se ao pobre Manzarra, a comer alguma coisa sozinho, ao pé da piscina. Provavelmente estava só a descansar entre gravações, metido na vidinha dele. Mas bom, só pelo uso da expressão "arreganhar a tacha", já dá para imaginar o tipo de pessoa que tínhamos ali. O tipo de pessoa que, aparentemente, acha que uma figura pública tem de chegar a um restaurante e andar ali de mesa em mesa, de sorriso armado, a cumprimentar toda a gente, a perguntar-lhes pela saúde, pelo trabalho e pelos filhos. Lembrei-me de um sketch do Bruno Nogueira, em que ele dizia que entre ele e os espectadores havia um ecrã, um vidro, não dava para passar de um lado para o outro, não se podiam tocar, por isso não eram amigos. Lá em casa até podiam achar que sim, mas não. Um conceito que, ao que parece, é difícil de explicar para algumas pessoas. Se és conhecido e se eu estou fartinha de te ver na televisão, o mínimo que espero se nos cruzarmos na rua é que me cumprimentes com um abraço apertadinho. Coitado do Manzarra. É que ainda por cima é mesmo simpático. Mas da fama de fraco arreganhador de tachas já não se livra.
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