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Channel: A Pipoca Mais Doce
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Dream, dream, dream...

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Ontem, na apresentação do livro do meu homem, levantou-se uma questão importante: por que é que as mulheres efabulam tanto? Este tema sempre me interessou muito, tendo em conta que passei uns bons, vá, 15 anos, a praticar a arte da efabulação. E do que é que isto consta? Ora bem, é uma função com a qual nós, mulheres, parecemos nascer e que não temos qualquer pudor em pôr em prática de cada vez que um amor dá para o torto. Regra geral, e sem contarmos com aquelas quatro ou cinco mulheres que são ultra-racionais e que topam tudo logo a léguas, temos uma grande e espectacular tendência para começar a inventar coisas quando começa tudo a descambar. A culpa NUNCA é deles, que se estão nas tintas para nós. Nãaaaaaaao! Até chegarmos a essa conclusão (se é que lá chegamos), vamos inventando 328 desculpas pelo caminho: que o pobre está a passar por uma fase chata na vida, que tem muito trabalho, que não tem trabalho, que teve uma infância traumática, que teve uma relação traumática, que tem uma ligação traumática à mãe, que gosta demasiado de nós (ah ah ah, sempre adorei esta), que nós o assustamos com a nossa independência (ah ah ah), etc, etc, etc. E mesmo depois de eles nos terem dado TODAS as provas e mais algumas de que se estão a cagar para nós, continuamos a fantasiar. Se calhar está sem saldo no telemóvel. Ou num sítio sem rede (há já dois meses). Ou perdeu o nosso número. Ou cortaram-lhe a net e por isso é que não pode enviar um mail. Ou teve de emigrar subitamente para uma aldeia remota do Congo, mas de certeza que quando voltar entra logo em contacto connosco. Ou vai acordar um dia e perceber que sim, que sempre nos amou e que é ao nosso lado que a vida faz sentido. Se calhar só precisa de tempo, por isso vamos lá dar espaço. Ou então acha que nós não lhes damos provas de amor suficientes, por isso vamos lá persegui-lo até à exaustão. Porquê, mulheres deste meu país, por que é que somos assim? Somos tão espertas, e expeditas e desenvolvidas para umas coisas, e depois noutras, como o amor, deixamo-nos endrominar feiamente, depositamos todas as nossas crenças e expectativas e, quase sempre, saem goradas. Será porque somos mais dadas ao sonho? Será porque precisamos sempre de ter algo assim na nossa vida? Será porque lutamos mais pela coisas? Mas onde é que se traça a fronteira entre o sonho saudável e a parvoíce/falta de auto-estima? É que uma coisa é querermos lutar por uma relação que ainda tem sinais vitais, acho isso saudável, outra é continuar a bater no ceguinho e a não querer ver o que está à nossa frente, uma relação que já morreu há muito (ou que, pior, só existiu na nossa cabecita). Porquê esta tendência para a cegueira? Para a fantasia? Para inventar coisas onde elas não existem? E por que é que os homens não sofrem desta patologia? Ou, pelo menos, não o demonstram com tanta evidência. Nisso (e só nisso) são mais espertos do que nós. Está certo que 32 anos não são ainda muitos para se conseguir desenvolver toda uma tese sociológica sobre o assunto, mas já são alguns. Já dei por mim a efabular muitas vezes, e ao longo dos anos vi muitas amigas e conhecidas a fazê-lo também. Tenho a certeza que sempre foi assim e, pior, desconfio que sempre será. Estaremos condenadas à burrice eterna ou será que as futuras gerações já virão com um chip diferente?

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