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Quartos para estudantes: está tudo doido

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Quando me candidatei à faculdade escolhi todas as opções de jornalismo que havia no país. Eram cinco, por isso a sexta hipótese foi para a faculdade de Direito de Lisboa. Não era exactamente o que queria mas, se tudo o resto falhasse, era uma opção a considerar, até porque não ia ficar parada um ano. Entre as opções de jornalismo, algumas eram fora de Lisboa. E, apesar de eu querer entrar para a Nova, até não me desagradava a ideia de ir para outra cidade e sair um bocado da asa dos pais. Mas não gostava de saber que isso ia representar mais um encargo para eles Acabou por não ser preciso: entrei na Nova, fiquei em Lisboa, correu tudo pelo melhor. Posto isto, não tenho bem ideia de como funcionava o mercado de arrendamento de quartos na altura. Tinha várias amigas de fora de Lisboa, umas partilhavam quartos, outros tinham casas só para elas, mas acho que era uma coisa relativamente tranquila e com valores acessíveis qb. Muiiiiiito longe do cambalacho de hoje em dia.

Nos últimos tempos saíram imensas notícias sobre a loucura que é conseguir arrendar um quarto, sobretudo em Lisboa. Os preços dispararam completamente
, estão super inflacionados e há muito boa gente a aproveitar-se da necessidade/desespero dos estudantes. Porque se vão para uma cidade diferente da deles, muitas vezes a centenas de quilómetros, é óbvio que precisam de uma casa, não há volta a dar. E então, vá de pedir 400, 500 ou 600 euros por um quarto. Repito: por UM QUARTO, em muitos casos partilhado e ainda com as despesas à parte. Fazendo as contas assim por alto, de quanto é que um estudante deslocado precisa para viver? É que ao valor do quarto acrescem as despesas da casa (água, luz, internet, gás), dinheiro para transportes, dinheiro para comerem e, vá, algum pocket money para também poderem ter alguma vida para além dos estudos. Ah, e sem esquecer propinas, livros e todo o material de que possam necessitar para a faculdade. Estamos a falar de quanto? Uns mil euros por mês? A sério, quantas famílias portuguesas é que podem ter este encargo mensal? Quantas famílias não vão ter de fazer das tripas coração para poderem ter os miúdos na faculdade? Quantas famílias não terão de se endividar ou recorrer a créditos? Claro que os miúdos também podem ajudar, arranjar um part-time, mas há cursos mais exigentes do que outros, nem todos estão desenhados para que os alunos se matem a estudar grande parte do dia e depois ainda tenham de arranjar um trabalho para fazer face às despesas.

Falei sobre isto assim por alto no Instagram e recebi histórias inacreditáveis de alunos ou de pais de alunos que andam na luta para encontrar um quarto. A mais chocante, para mim, foi a de alguém que foi ver uma casa em que pediam 300 euros por um quarto. O preço parecia relativamente acessível, mas claro que escondia marosca. A casa era um T4: três dos quartos eram para quatro pessoas e o outro era para seis pessoas. Ou seja, 18 pessoas enfiadas num apartamento, com duas casas de banho, e cada uma a pagar 300 euros. É fazer as contas: no final de cada mês o esperto do senhorio arrecada 5400 euros. Acho isto ultrajante. Pedi a essa pessoa que denunciasse a situação, porque isto não pode ser legal. Não sei se o fez ou não, mas acho importante que situações destas sejam postas a descoberto.

Isto é só um exemplo, o que não falta por aí é gente a pedir fortunas por quartos mínimos, ou encafuados em caves, ou sem janelas, ou divididos com mais não sei quantas pessoas. E, claro, a preços loucos, muitas vezes com vários meses de caução e sem passarem recibos, sem contrato, sem poderem receber visitas, sem poderem entrar e sair à hora que querem... Os alunos têm de se sujeitar e virar reféns dos senhorios, porque não lhes resta outro remédio. Qual é a outra hipótese? Montarem uma tenda à porta da faculdade? Se calhar o próximo negócio a explorar é esse, o dos parques de campismo, já estou a ver os estudantes a alugarem roulouttes por 600 euros mês no parque da Costa da Caparica. Muitas vezes a solução passa por ir morar para as zonas limítrofes, mas isso faz com que se gaste muito mais tempo nos transportes e se gaste muito mais com deslocações.

Atenção, acho óptimo que quem tenha imóveis possa fazer lucro com eles, nada contra. Mas a grande maioria destas situações, além de ilegais são também imorais, é só um aproveitamento desleal. 400 euros por um lugar num beliche? Num quarto dividido com mais três pessoas? Estão mesmo a falar a sério. Estava aqui a ler uma notícia do JN que diz que no Porto os preços dos quartos para estudantes duplicaram em cerca de quatro anos. Em 2014 rondavam os 150 euros e agora não se encontra nada abaixo dos 300. Já em Lisboa há quartos que podem ir até aos 700 euros. Dizem que é normal, que a evolução natural do mercado, que tudo aumentou, não foram só as casas, mas eu acho isto um pequeno abuso. Em calhando sai mais barato pôr um filho a estudar no estrangeiro. Se calhar é isso, só quando os miúdos forem todos para fora ou, simplesmente, desistirem de estudar por não terem dinheiro para pagar as despesas, é que se começa a pensar a sério neste assunto. 

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