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Channel: A Pipoca Mais Doce
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Grávida-queixinhas #4

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Na semana passada devia ter ido com os meus amigos de férias para Espanha. Já tínhamos ido no ano passado, adorámos, por isso decidimos repetir a dose. Como estou grávida, eles gentilmente acederam a ir mais cedo. Ou seja, desistimos de Agosto e concentrámos forças em Junho, que também é um mês bem bonito. E já estávamos a contar os dias e a fazer tracinhos na parede quando, duas semanas antes, a miúda que carrego no bucho começou a manifestar sinais da sua personalidade. Estava eu muito bem no escritório quando me queixei às coleguinhas que a miúda não estava quieta, que estava só a empurrar, a empurrar. A coisa estava de tal maneira que achei que, a qualquer momento, ia ver aparecer um pé a sair-me da barriga.


Estive desconfortável o dia todo e, como não havia maneira de passar, achei por bem enviar uma mensagem à médica, que achou que era boa ideia ir ter com ela ao consultório. Lá fui, vá de fazer um CTG e... estava com contracções super regulares e assim nos píncaros. Quando a médica viu ia tendo um enfarte. Na gravidez do Mateus nunca me tinha acontecido nada do género, não tive uma contracção que fosse, por isso não fazia ideia que era disso que se tratava. Para mim, era só a miúda a ser chata e a empurrar, mas afinal não. Fui recambiada para o hospital,  com ordens para repetir o CTG e, eventualmente, ter de ficar logo internada. As contracções já não estavam tão fortes, ainda fiquei um bocado a soro, mas deixaram-me voltar para casa, com ordens explícitas para ficar em repouso absoluto. Ou seja, tipo menino Jesus: nas palhas estendida, nas palhas deitada. 

A semana passou-se assim, entre a cama e o sofá, um bocado a dar em maluca. Tive de desmarcar tudo o que implicasse sair de casa, só pus o nariz na rua para ir à médica ou fazer exames. E a coisa estava mais ou menos até voltar a ter novo ataque de contracções. Vamos embora novamente para o hospital, contracções ainda menos espaçadas do que da primeira vez, ai que o raio da miúda me nasce já hoje. Não nasceu, mas acabei por ter de ficar internada uma noite, só para garantir que corria tudo pelo melhor. E aqui pequena ressalva só para dizer que recorri sempre a hospitais públicos e, de facto, por muito que nos queixemos, temos um serviço incrível. Passei pela Alfredo da Costa e todas as pessoas com quem me cruzei foram absolutamente inexcedíveis no cuidado, na simpatia e no profissionalismo. Senti sempre que estava em óptimas mãos, que, se acontecesse alguma coisa, ali era o melhor sítio para estar e que o que até me parecia um bocadinho de excesso de zelo era só a tentativa de garantir que nada estava a ser deixado ao acaso e que nenhum detalhe lhes estava a escapar. Fiquei mesmo muito bem impressionada, mas já tinha uma óptima ideia dos hospitais públicos desde o nascimento do Mateus. Nessa altura já tinha cesariana marcada num privado, mas quando se soube que ia ser prematuro a médica aconselhou-me a ir antes para o público. Foi o que fiz e, sinceramente, tive zero razões de queixa, por isso a ideia é repetir a experiência. O que, eventualmente, se pode perder em conforto, privacidade ou algumas mordomias extra, ganha-se largamente noutras coisas. As que realmente importam. 

Adiante. Fiquei essa noite de molho, tive alta na manhã seguinte e voltei para casa com a mesma ordem: repouso absoluto. Ou seja, em casa e o máximo de tempo deitada. Ainda sondei a médica, assim como quem não quer a coisa, do género "ahhh, estava só a pensar ir ali de férias a Espanha uma semanita, o que lhe parece?", mas não me safei, como é óbvio, e tive mesmo de desmarcar tudo. Na loucura, autorizou-me a passar uns dias fora de casa, mas perto de Lisboa, caso acontecesse alguma coisa. Acabámos por ir uns dias para o Praia d'El Rey (perto de Óbidos) e mais uns dias para o Vila Galé Sintra, depois de jurar a todos os santinhos que ia ficar sossegada, que ia estar (quase) sempre deitada e que não punha o rabo fora dos hotéis. Não pus mesmo e as únicas distâncias que percorri foram entre a cama e as espreguiçadeiras da piscina (ah, e mais umas quantas visitas ao hospital). 

Depois desta "espécie de férias", o plano de festas mantém-se pelas próximas looooongas semanas. Ou seja, em casa e quieta, sempre que possível. Se fizer muita questão, posso ir à rua assim de vez em quando, apanhar ar ou beber um café, mas nada de andar a bater perna por aí. O Mateus nasceu às 34 semanas e eu já tinha sido avisada que havia uma forte probabilidade de a irmã também querer ser apressadinha, mas as contracções começaram cedo demais, muiiiiiito antes das 34. E como não quero mesmo ter um prematuro-tão-prematuro, que remédio tenho eu se não acatar as ordens da médica. Muiiiiiiiiiiiiiito contrariada, mas pronto. 

Toda a gente diz "uaaaaaau, que sonho, poder ficar em casa o dia todo, na cama, a ler, ou ver séries ou a papar os jogos do Mundial", mas isso só é giro por um tempo limitado. E se não for por obrigação. Porque quando é, é só uma seca, e só conseguimos pensar que tudo o que há de giro para fazer na vida acontece fora de casa. Decididamente, não nasci para estar sossegada. E estar em casa, saber que há uma data de coisas para fazer e que estou limitada, é coisa que me esfrangalha os nervos. E então lá dou por mim a fazer umas máquinas de roupa, a arrumar coisas da miúda (que ainda não tem praticamente nada tratado), a dar um jeito à casa, a adiantar o jantar... Sempre que abuso um bocadinho as contracções atacam logo, já percebi que não dá mesmo para me esticar. Mas também não dá para ficar 24 horas deitada, começo a hiperventilar e, sobretudo, a sentir-me inútil. E ficar em casa com este tempo? É que com a chuva ainda vá, uma pessoa até agradece, mas com calor é só uma tristeza. Ontem tive de ir à farmácia e para mim já foi um programa espectacular, mesmo que seja a 100 metros de casa. 

Esta clausura forçada também explica um bocadinho a minha ausência aqui do blog. Tenho 307 mil posts para fazer, mas como implicam passar mais tempo sentada ao computador (deitada na cama não dá grande jeito), tenho adiado a tarefa. E também passei ali por uma fase em que me sentia tão ratazana de esgoto que não me apetecia mesmo escrever nada. Tenho andando mais pelo Instagram, onde a comunicação é mais fácil e mais instantânea, por isso sabem que podem encontrar-me sempre por lá. Mas vou tentar voltar a ser mais regular aqui por estas bandas. Isto enquanto massajo o ego da miúda para ver se ela se mantém no forno mais uns tempos. Espero que depois me compense largamente e me dê noites santas, mas com o feitiozinho que já está a revelar, tenho para mim que não. Sacanas dos putos, ainda não nasceram e já são uma carga de trabalhos.

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