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Dez regras para botar nome a um filho

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Milhões de fraldas para trocar, noites mal dormidas, aquele choro do demónio que nos esfrangalha o sistema nervoso, as primeiras quedas, as primeiras doenças. Esqueçam isso tudo. O maior desafio da paternidade, aquele que parece ter nas mãos a responsabilidade de definir tooooooda a vida da nossa criança, é o nome que escolhemos para lhe dar. Pelo menos, assim parece, tamanha a pressão que o mundo põe neste tema. Para conseguirem sobreviver a este desafio com sucesso, aqui ficam algumas dicas que vos poderão ser de extrema utilidade:

1- Estão bem enganados se acham que o nome do vosso filho tem de agradar,  exclusivamente, aos pais. Não, meus amigos, não sejam inocentes. O nome do vosso filho tem de ser algo que agrade, em simultâneo, aos irmãos, aos avós, aos tios, aos amigos, aos parentes dos amigos, aos vizinhos (do bairro todo, não é só aos do vosso prédio), à senhora do café, à jovem que vos depila o pipi, ao patrão do vosso marido, ao carteiro,  à selecção portuguesa de tiro com arco e ainda àquele vosso ex-namorado com quem andaram em 1989 e que também tem uma palavra a dizer sobre o assunto. Porque é mesmo isso que vai acontecer: TODA a gente vai querer opinar, como se fosse um dever, uma espécie de obrigação colectiva, uma votação na qual todos foram convidados a participar. Não foram, na verdade estamo-nos nas tintas para a opinião de 97,4% das pessoas mas, ainda assim, elas sentem que devem dar o seu contributo;


2- A menos que escolham nomes absolutamente neutros, inofensivos e assim meio chatinhos, tipo Maria ou João, tudo o resto será acolhido com um esgar de surpresa/repulsa/infelicidade/desilusão. Se escolherem qualquer nome que não conste dos dez mais registados em Portugal no ano anterior, preparem-se para comentários do género:
- "Ah... é assim... diferente" (deve ler-se como "ah... bela merda de nome que foram arranjar");
- "Por acaso não conheço ninguém com esse nome" (atenção, aqui o objectivo não é sublinhar que estamos a ser originais, é reforçar que estamos só a ser excêntricos);
- "Não punha num filho meu, mas até não desgosto" (exacto, a ideia é mesmo essa, não estamos a dar sugestões para os nomes dos teus filhos, estamos só a partilhar o do nosso);
- "Mas já está mesmo decidido?" (não, ainda vamos pedir ao presidente Marcelo que leve o tema a referendo)

3- Esqueçam o que disse acima, mesmo que escolham o nome mais simples do mundo, haverá sempre uma alma a dizer:
- "É bonito, mas já está um bocadinho visto..."
- "Só na turma do meu Nélson há 14 Marias..."
- "Por acaso era o nome que eu tinha pensado para a minha menina, mas depois achei que já havia muitas e pus-lhe antes Caetana Gina"
- "Mas já está mesmo decidido?"

4- Qualquer que seja o nome escolhido, vai sempre trazer reminiscências a toda e qualquer alminha. E nunca são positivas, são sempre coisas do género:
- "Por acaso todas as Ritas que conheço são assanhadas. Umas galdérias"
- "José? Isso era o gordo da minha turma no quinto ano"
- "Sofia nem pensar, que era o nome da minha avó que era má comás cobras"
- "Andei com um António que cheirava mal dos pés"
- "Sara? Ui, conheci uma que deu más noites até aos cinco anos!"
- "Laura... era o nome da minha gata, Deus levou-a vai para sete anos"
O sugerido é que façam um levantamento de todos os nomes que podem trazer más memórias aos vossos amigos, familiares, conhecidos, senhora do pão, blá blá blá (ver lista de potenciais interessados mais acima). Vão concluir que não há nenhum nome que possa ser aprovado.

5- Contem também com os futuristas, malta dada à adivinhação, verdadeiras Mayas de trazer por casa, aqueles que são capazes de prever eventuais problemas em torno de um nome. E que não se coíbem em prevenir-vos. Por exemplo:
- "Não ponhas Constança porque depois toda a gente vai chamá-la "tansa", coitada"
- "Francisco? Francisco é Chico! Queres que tratem o miúdo por Chico? Tu é que sabes!"
- "Amália? Como a fadista? Ou como a lontra do Oceanário?"
- "Oh, Simão é o Sabrosa, toda a gente sabe"
- "Mateus? Nem pensar, depois toda a gente vai gozar com ele por causa do Mateus Rosé"
- "Olívia? Quê, a Palito?"
- "Concha é nome de pessoa gorda"
- "Luz? E depois pedes um patrocínio ao Benfica"
- "Beatriz rima com meretriz! Coitada da miúda!"
Preparem-se, todos os comentários são passíveis de ser proferidos. Não há limite para a estupidez criatividade das pessoas.

6- Se já tiverem um filho, assegurem-se que o nome que escolherem para o segundo combina com o do primeiro. O que é que isso significa? Sabe Deus, mas há MESMO pessoas que defendem esta teoria. Não percebo se os nomes têm de rimar, se têm de começar pela mesma letra, se têm de ter o mesmo número de letras,  mas têm de combinar. Porque os vossos filhos serão praticamente siameses unidos pela anca, andarão sempre juntos, e quando lhes perguntarem os nomes eles terão de responder em uníssono, em perfeita sintonia, por isso convém que os nomes soem de forma harmoniosa, quais pássaros a chilrear numa manhã de Verão. Por exemplo, fica péssimo terem um Bernardo e depois uma Sandra. Não vai bem.

7- Por vezes (na verdade, muitas vezes) o perigo vem de onde menos se espera, ou seja, do outro progenitor da criança. Preparem-se para entrar em negociações exaustivas e prolongadas para evitarem que o vosso rebento se chame Ifigénia em homenagem à vossa sogra, uma jóia de senhora  que já morreu vai para 15 anos (mentira, era uma bruxa), ou Maria de Fátima à conta de um promessa que o homem fez à santa no quinto ano caso passasse a Trabalhos Manuais. Nestes casos, podem valer-se da irracionalidade e usar argumentos incríveis e impossíveis de rebater, como "eu é que estou grávida, eu é que escolho". Parece-me sempre válido.

8- Não peçam opiniões. Se já escolheram um nome e estão confiantes, comuniquem-no e pronto, mas nunca, NUNCA ponham a coisa como "estamos a pensar em Afonso, o que é que acham?". Não interessa o que é que o mundo acha, o mundo nunca estará suficientemente convencido da vossa escolha, o mundo nunca achará um nome suficientemente digno, o mundo achará sempre que vocês são uns parvalhões que nem um nome sabem escolher, quanto mais educar uma criança. Não se metam em assados, zelem pela vossa sanidade mental.

9- Guardem o nome para vocês, revelem-no só depois de a criança já estar cá fora e devidamente registada. Não, isto não evitará que se livrem de todos os comentários acima descritos e mais alguns, mas sempre são nove meses de sossego.

10- Juntem-se a mim e assinem a petição "Criancinhas sem Nome", que ainda não está criada mas que eu acho que faz todo o sentido. Dar um nome a um filho é de uma responsabilidade enorme,  eu não quero viver com esse peso em cima do lombo. Quantos não são os filhos que ainda hoje culpam os pais pelo nome escolhido? Quantos não andam hoje a pagar 80 euros por cada sessão de terapia à conta disso? Hã? Por mim, os putos nasciam e passavam a ser tratados por "coisinha número qualquer coisa" (conforme o número de crianças que já houvesse), e quando atingissem determinada idade, cabia-lhes a eles irem ao registo tratar do assunto. Assim ficava toda a gente feliz. Não é uma ideia fixe?

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