Sempre que o "Linger" passa na rádio eu volto a 1994. Tenho 13 anos, uma miúda escanzelada que veste dois pares de calças porque todos os dias, todos os dias, é gozada por ser esquelética. Volto aos corredores do liceu Passos Manuel, a mochila pesadíssima de todos os livros que tenho de carregar. No estojo de lata, o nome "Diogo" escrito, a minha paixão impossível, um miúdo "muito" mais velho, para aí com uns 16, que nem sequer sabe que eu existo. A voz da Dolores O'Riordan, a vocalista dos Cranberries, canta "but i'm in so deep / you know i'm such a fool for you", e eu tenho a certezinha que ela escreveu aquilo para mim, porque também já teve 13 anos, também já teve o coração partido, também já sentiu que era aquele ou era mais nenhum, também viveu toda a fatalidade com que se vive naquela idade. O mundo todo contra nós, a incompreensão, a sensação de estarmos sempre deslocados. E depois havia o "Dreams", que mudava tudo, e afinal já sentíamos que tínhamos a vida toda pela frente, que o mundo estava aos nossos pés, que podíamos ser tudo aquilo que quiséssemos.
Li há pouco nas notícias que a Dolores morreu. Cresci, os Cranberries foram à vida deles, eu à minha. Não os ouvia há uma vida, só os hits antigos que iam passando na rádio. Mas esta notícia foi um murro no estômago, porque à conta das músicas deles as memórias daquela época quase que se podem tocar. E percebemos que são só isso. Memórias que vão ficando cada vez mais longe