Estávamos nós a passar uns dias no Alentejo quando, numa noite de lua cheia, o homem achou que era boa ideia introduzir o conceito "lobisomem" ao Mateus. Ideia peregrina. Foi óptimo, porque não só o miúdo largou num berreiro a meio do jantar, como não há noite em que não veja a lua e não pergunte se o lobisomem está a caminho. É que nem precisa de ser lua cheia, qualquer lua lhe serve para achar que vai ser comido vivo por uma criatura mítica que é metade homem, metade lobo. Deus me dê muita paciência. E se a coisa já não estava famosa, piorou quando o homem, numa tentativa de acalmar o pânico do Mateus, decidiu dizer-lhe "ahhh, mas não te preocupes, o lobisomem vive muito longe, mora em Viana do Castelo", que foi assim o sítio mais longe que lhe passou pela cabeça. Podia ter dito que o lobisomem morava em Pequim. Ou em Sydney. Mas não, saiu-lhe Viana do Castelo. E pronto, agora não só tenho uma criança que tem medo do lobisomem como acha que o pior destino do mundo é Viana do Castelo. Se, por acaso, ouve "Viana do Castelo" na rádio ou na televisão, larga aos berros: "aaaaaaaaahhhhhh, Viana do Castelo nãaaaaaaaaaooooooo!". Ainda agora, no Brasil, dei por ele a perguntar "estamos perto de Viana do Castelo?". Caros vianenses, gostava só aqui de sublinhar que eu não tenho nada a ver com isto e que tenho agora a nobre missão de convencer o Mateus de que o lobisomem já se mudou, porque se deu mal com o frio, e que vive agora no Turquemenistão. Ou em Madagáscar. Caso contrário acho que não poderei ir a Viana durante muitos e bons anos. Vou dar o meu melhor.
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