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Channel: A Pipoca Mais Doce
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E se nos ajudassem a ajudar?

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A capacidade de mobilização e o sentido de solidariedade dos portugueses é absolutamente inacreditável. Já o provámos inúmeras vezes. Somos um povo de bom coração, tomamos as dores dos outros, em poucas horas somos capazes de juntar alimentos, roupa, dinheiro, o que for preciso. Tomamos como responsabilidade nossa aquilo que deveria ser responsabilidade de outros, porque percebemos que se não o fizermos, provavelmente ninguém o fará. Viu-se isso em Pedrógão, em menos de nada acedemos às necessidades mais prementes dos bombeiros e das populações, de repente até já havia coisas a mais. E ligámos para linhas solidárias, fizemos donativos, houve seguramente gente com muito pouco que fez o esforço de ajudar como conseguiu. 

Independentemente daquilo que nos move - e que é absolutamente indiferente - sentimo-nos felizes por poder fazer alguma coisa, mesmo que mínima. Nestas situações é normal sentirmo-nos impotentes, queremos ajudar e não sabemos muito bem como, queremos fazer alguma coisa, mas nem sabemos por onde começar. E acho que Pedrógão nos deixou um pouco de pé atrás. A falta de organização e de logística que fez com que se entregassem bens em excesso, os donativos em dinheiro que, ainda hoje, continuam por entregar (onde anda o dinheiro? Porque é que ainda não chegou às pessoas?), tudo isto nos deixa um pouco perdidos. Porque queremos que a nossa ajuda seja útil, que faça realmente a diferença. 

Nestes últimos dias foram vários os apelos para doações de bens aos bombeiros e às populações. Uma vez mais, juntei-me a alguns grupos para comprarmos algumas coisas mas, não sei porquê, parece-me pouco. Talvez seja influenciada por esta onde de acusares de dedo, em que passamos a vida a perguntar aos outros "e tu? O que é que fazes para ajudar? Hã, hã?". Tive algumas pessoas no Facebook com este discurso de cobrança, a dizer que eu só me queixo e que não faço nada. Acho que faço alguma coisa, mas se calhar não faço tudo o que está ao meu alcance. É verdade que, para algumas pessoas, nada será suficiente, nunca, porque a vontade de atacar é muito maior do que ter a capacidade de reconhecer o esforço que se faz, mas se calhar todos nós podemos fazer mais qualquer coisinha. 

Dito isto, penso que também falta alguma informação. Como é que a sociedade civil pode ajudar? De que forma? Onde é que somos mais úteis? De que forma é que a nossa ajuda pode mudar alguma coisa? Por exemplo, perguntei a variadíssimas pessoas como funciona a limpeza das florestas ou a reflorestação das áreas ardidas e ninguém me soube dizer. Há grupos organizados? Há associações às quais uma pessoa se possa juntar? Presumo que não posso ir eu para o meio do mato apanhar lixo. Quer dizer, poder posso mas, lá está, não acredito que consiga fazer grande coisa. Mas juntos, já o provámos, andamos com isto para a frente.

Por isso, pessoas que mandam nisto, ajudem-nos a ajudar. Orientem-nos. Aproveitem a onda de boa-vontade, aproveitem a capacidade de iniciativa das pessoas, não deixem passar seis meses, não deixem que chegue uma nova tragédia, não deixem que a vida de todos os dias nos faça emergir em indiferença, que encolhamos os ombros e sigamos em frente. Expliquem-nos como podemos ser úteis.

Entretanto, aproveito para divulgar a manifestação que vai acontecer já este sábado, em Lisboa, na praça Luís de Camões. Vai servir para alguma coisa? Vai mudar alguma coisa? Talvez sim, talvez não, mas acho importante que saiamos à rua, que manifestemos a nossa indignação, a nossa tristeza,  o que nos vai na alma. Queremos ver mudanças, queremos um pedido de desculpas, queremos que nos assegurem que tudo está a ser feito para que tragédias destas não se repitam. Não achem que nos estamos nas tintas. Porque não estamos. 



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