O início do ano é a minha altura preferida em termos cinematográficos. Acho que é assim uma espécie de compensação, o universo a equilibrar-se naturalmente. Ai Janeiro é um mês frio como tudo? Ai fazes anos e ficas sempre um bocado arratazanada? Então toma lá belos filmes para ver se arrebitas. Os Óscares são em Fevereiro, o que significa que Janeiro é o melhor mês para se ir ao cinema, tudo o que é bom estreia por esta altura. E eu tenho visto coisas mesmo muito boas. Se estão a pensar aproveitar o fim-de-semana para dar um salto ao cinema, aqui ficam três sugestões:
O Tom Ford achou que ser um designer incrível não era suficiente, por isso decidiu ser também um realizador incrível, só para nos esfregar na cara o quão talentoso se pode ser. Já tinha achado o "A Single Man" (o filme de estreia) uma pequena obra-prima, e este "Animais Nocturnos" não lhe fica nada atrás. A história é mais densa, mas a estética é a mesma, lindíssima, porque o homem tem todo um bom gosto e toda uma atenção aos pormenores (a fotografia é assim qualquer coisa). De forma muito simplista, o filme conta a história de Susan (Amy Adams), que volta a ter contacto com o ex-marido (Jake Gyllenhall) ao fim de uma data de anos quando este lhe envia o livro que escreveu. A história desenvolve-se em vários planos, reais e ficcionais, o que dá ao filme uma dimensão um bocadinho complexa/perturbadora. Mas vale muito a pena.
Na minha vida chorei para aí em dois ou três filmes. Este foi um deles. O filme é absolutamente contemporâneo e mostra como os complexos processos burocráticos a que todos estamos sujeitos podem lixar a vida a uma pessoa. Fazemos parte do sistema e quando dependemos completamente dele, quando não temos alternativa, o cenário pode ser devastador. Há muito, muito tempo que um filme não me emocionava tanto, não me fazia sentir tanta empatia por uma personagem (neste caso, por duas). E tem uma das cenas mais poderosas e comovedoras de sempre, um verdadeiro murro no estômago. O filme deve estar quase, quase a sair de exibição, por isso corram.
Mais um filme lindíssimo e com muito potencial para nos deixar com um nó na garganta. Tinha tudo para ser um dramalhão (bem, e é), mas depois é entrecortado por diálogos geniais entre um tio e um sobrinho que se aproximam por desgraças da vida. A personagem do Casey Affleck valeu-lhe o Globo de Ouro e é mais do que merecido, porque faz um papel do caraças.