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Channel: A Pipoca Mais Doce
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Vamos falar de sexo #3

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Nisto do sexo há muitas diferenças entre homens e mulheres. Umas farão sentido, porque somos realmente diferentes, outras são apenas estigmas e preconceitos que se foram prolongando no tempo.

Dizes que é um mito que "as mulheres não têm um drive puramente sexual". Isto quer dizer o quê? Que ainda há muita gente que acredita que as mulheres só fazem sexo para fins reprodutivos e não por diversão? 
Quer dizer que existe a ideia instalada que as mulheres só têm sexo dentro de uma relação ou, fora dela, quando imbuídas de motivações românticas. E acreditar nisto é o mesmo que acreditar que as mulheres, regra geral, não pinam apenas porque têm vontade, que o seu desejo não pode estar envolto apenas em tesão e que ele só é válido, reconhecido, quando faz parte de um contexto de relação. Fora dela, só as porcas têm sexo, naturalmente.

Reconhecer que as mulheres têm sexo só porque sim, mesmo que de forma casual (ou seja, sem ser de forma integrada numa "relação estável") faz com que sejamos olhadas de lado? Ou seja, a tal dicotomia preconceituosa que falas e que ainda persiste muito: se é ele, é um "campeão do mundo no campeonato do saca gajas", se é ela ganha o "primeiro prémio da porca do ano".

 Naturalmente que existe, e todos nós, sem excepção, com maior ou menor frequência, maior ou menor intensidade, perpetuamos essa dicotomia. Não porque sejamos más pessoas – pelo menos, a maioria de nós – mas porque crescemos nisto, está-nos demasiado gravado na pele. A única forma que temos de combater este preconceito de merda, que tanto mal nos faz a todos, é:
 1. Educar os nossos filhos de maneira diferente; 
 2. Ter noção de nós mesmos quando estamos a ser preconceituosos e parar de imediato com o que dizemos e pensamos. E devemos ser nós, mulheres, a dar o mote. Coisa que, infelizmente, não acontece.

Por outro lado, dizer que nós só pinamos em busca de amor e que eles o fazem por prazer vem, de alguma maneira, alimentar um outro preconceito: o de que os homens têm mais dificuldade em ser fiéis nos relacionamentos porque andam sempre em busca de prazer, de novidade. Treta, certo? 
Super treta. E uma treta que subsiste por duas razões: 1.porque infantilizamos os homens até à estupidez, até ao ponto de os tornarmos pouco mais que animais que não podem ver um rabo de saia, permitindo que nos faltem ao respeito e 2. Porque isso também nos desresponsabiliza de olharmos para nós como mulheres com vontade de pegar num tipo que nos dá tesão e virá-lo ao contrário de tanto pinar. Zeus nos livre de uma coisa dessas! Ordinaronas, pá!

No livro dizes "no que diz respeito a tesão, homens e mulheres são iguais. Com uma pequena diferença: aos primeiros é-lhes encorajado a perseguir essa protuberância do desejo, às segundas é-lhes instigada a paralisia sexual. Não fodam, sejam fodidas". Isto leva-nos também à eterna questão do número. Se eles já sacaram 100 são os maiores, se nós já dormimos com 20 somos umas putas. Este preconceito tem fim à vista?
De onde me encontro, não lhe vejo fim. Acho que ele só vai ter um fim quando as mulheres se borrifarem à séria para o que dizem delas. Na Europa do Norte esta questão coloca-se com muito menos intensidade, ou mal se coloca. Aqui, no feudo latino, é que tudo o que as mulheres fazem parece ser “contra” os homens, para os aviltar, para os provocar, para os “tirar do sério”. E isto é tanto mais estúpido conquanto nós, parvas, nos colocamos nessa posição. Por isso, este e outros preconceitos só terminam no dia em que todas, cada uma na sua vida, na sua esfera privada, ignorarmos a opinião dos outros em relação ao nosso desejo e comportamento face ao que sexualmente procuramos. E dizer isto não significa ostracizar os homens, tratá-los mal, significa que devemos começar a pensar primeiro em nós, individualmente e como parte de relação (se for o caso), e deixar de tratar os homens como filhos. Repitam comigo: os nossos parceiros não são nossos filhos!  

Porque é que gostamos tanto neste assunto, sobretudo no início das relações? Adoramos ser sinceros, dizer que fizemos isto e aquilo, que dormimos com este e com aquele, que pinámos num carro ou na piscina dos pais do nosso ex. Essa informação, como é óbvio, irá ser usada contra nós, mais cedo ou mais tarde. Porque é que insistimos em abrir o livro todo se, como dizes, "nada no nosso passado sexual diz respeito a quem connosco partilha o sexo no presente"? 
Porque, justamente, não valorizamos, nem entendemos, que a nossa história e passado sexuais fazem parte de um legado individual que pode, ou não, ser trazido para uma nova história a dois. Há pessoas que aguentam saber certos capítulos do nosso livro, outras não. Mas no início das relações, queremos muito que gostem de nós, queremos ter essa validação, essa certeza, e alienamos esses pedaços de informação por pensarmos que isso nos torna mais dignas de confiança e afecto, pelo outro. Não partilhar este tipo de coisa não significa que estejamos a esconder coisas, ou que não sejamos confiáveis, significa apenas que há coisas que devem ficar só para nós, ou, no máximo, contadas quando a confiança, a verdadeira, está construída e sólida.


(...) os pobres dos homens são educados a sentir que têm de ser uma bomba na cama (...) Achas que é posta demasiada pressão em cima dos homens? Eu acho que também se exige muito das mulheres a nível sexual. Mais não seja que estejamos sempre dispostas e prontas para a brincadeira. 
Quando o sexo está por todo o lado – tanto de forma velada como de modo bem objetivo – é normal que as comparações e as expectativas existam. Julgo que se exige de ambos, homens e mulheres, coisas diferentes. A eles, que estejam sempre de pau feito, prontos a fodas várias; e nós, que tenhamos muitos e intensos orgasmos, façamos o pino e gemamos muito para validar a ideia que existe do que é uma mulher a ter prazer. Este desencontro acontece quando homens e mulheres deixam de comunicar, e isso, de um modo geral, numa visão macro da coisa, é o principal problema das relações (também sexuais) entre todos nós: fingimos demasiado, uns porque não querem mostrar o que, de facto, pensam e sentem; outros porque não sabem o que pensam e sentem. Mas, por outro lado, é também esta a beleza das relações humanas.

Afinal, eles têm mais vontade do que nós ou é tudo mito? E aquela coisa de eles estarem sempre disponíveis para o sexo? Também é manifestamente exagerado?
Eles têm mais vontade de que nós. É um facto. Podem dizer que não sei quê, que convosco, as vossas amigas e vizinhas não é assim, mas o mundo não se esgota no umbigo de cada uma de nós. E para a larga, larguíssima maioria dos casais, os homens têm uma líbido mais constante e “pronta” que as mulheres. Por razões 1. sociais – ainda nos cabe a maioria das tarefas em casa, para além de trabalharmos fora o dia inteiro;  2.culturais/educacionais, por não sermos motivadas a nos explorarmos mais como pessoas sexuais e a procurar prazer sem culpa e 3. Hormonais, parece desculpa mas as hormonas têm um papel relevante numa líbido oscilante. Há dias, momentos, fases, em que elas nos pregam partidas e nos levam para longe de tudo o que é sexual.

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