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Channel: A Pipoca Mais Doce
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E para acabar a semana em beleza

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1- O João Soares, ministro da Cultura (ainda me custa dizer isto sem me atirar para o chão a rir) ameaçou pregar umas bofetadas a dois colunistas do jornal Público (o Augusto M. Seabra e o Vasco Pulido Valente), porque ambos escreveram artigos que não abonavam propriamente a favor da sua pessoa. É tudo tão bom nesta história. Um ministro da Cultura (ah ah ah) que ameaça agredir fisicamente duas figuras, precisamente, da Cultura. Tudo isto num estado democrático onde, digo eu, ainda deveria haver algum respeitinho por conceitos como a liberdade de expressão e de pensamento. A ameaça viu a luz via Facebook, num post em que João Soares deita ódio pelos olhos, sente-se a raiva a espumar em cada tecla. O que é que lhe vai acontecer? Nada. Fez um pedido de desculpas assim meio às três pancadas, em que mais parecia que estava a gozar do que a falar a sério, e a coisa vai passar pelos pingos da chuva. Demissão? Qual quê? Vamos deixá-lo enterrar-se mais um bocadinho (porque vai acontecer).

P.S: nem de propósito, enquanto escrevia isto
o João Soares apresentou o seu pedido de demissão. Diz ele que não aceita prescindir "do direito à expressão da opinião e palavra". Eu diria que um ministro ameaçar dar bofetadas a colunistas não é beeeeeeeem um direito à expressão de opinião e palavra, é só ser troll, mas tudo bem.

2- Depois foi a Joana Vasconcelos. Num vídeo para a RTP, no qual foi convidada a descrever o que levaria numa mochila se tivesse de deixar o seu país como refugiada, elencou objectos como o iPad, o iPhone, os óculos de sol, as jóias, um caderno para desenhar ou vários novelos de lã. A internet, como é óbvio, caiu-lhe em cima. Que era não ter noção, que era gozar com os refugiados, que era não ter um pingo de sensibilidade. Não sei se será isso tudo. Há, como há sempre nestas coisas, todo um exagero, muita gente disposta a indignar-se. Isto faz lembrar um bocadinho o Pepa-gate. No caso da Joana, tal como no caso da Pepa, acho que o problema não está no conteúdo, porque cada um pensa o que quer. Se a Pepa quer uma Chanel força nisso, desde que não me peça o dinheiro para o comprar, p tudo bem. Se a Joana quer levar o iPad por mim tudo bem também, cada um sabe ao que é que tem mais amor ou o que é que lhe poderá ser mais útil. O problema está, creio, no contexto e na falta de empatia, que faz com que pareça insensibilidade. Não a conheço, mas não acho que a Joana Vasconcelos seja uma alma insensível ou alheia aos problemas da humanidade. Mas ao dizer que leva o iPhone e as jóias parece que sim, que está completamente alheada. E não houve uma alma que visse aquele vídeo antes de o lançar para o ar e pensasse "espera lá que isto é capaz de não ser uma grande ideia". Tem tudo a ver com contexto. E, neste contexto, falar de jóias e óculos de sol, está assim a puxar o pezinho para a falta de noção. No caminho, acho que isto obrigou muitos de nós a fazer o mesmo exercício. O que é que eu levaria se tivesse de pegar em pouca coisa e fugir do país? Numa situação de pânico, do que é que me lembraria? Penso sempre no que ter à mão em caso de catástrofe natural e acho que iria por aí: água, alguma comida, estojo de primeiros socorros, lanterna, rádio de pilhas, uma muda de roupa. Mas também levaria o iPhone-com-carregador (porque é o meu telemóvel, tem todos os contactos, dá para comunicar com o mundo) e um ou outro objecto pelo qual tivesse estima (fotografias, um terço, sei lá), mesmo que  não tivesse qualquer utilidade.

Já agora, o que é o João Soares levará na sua caixinha de papel ao deixar o Ministério?

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