Tinha para aí uns 20 anos quando decidi ir com umas amigas à "bruxa". Não acreditava em nada daquilo, ia muito mais numa de me divertir do que outra coisa qualquer, mas andava ali com uns probleminhas amorosos, precisava de respostas e, enfim, porque não ouvir o que a senhora tinha para dizer? Então lá fui. A bruxa não tinha ar de bruxa. Não havia verrugas com pêlos, não me abriu a porta montada numa vassoura, não apareceu a arrastar um caldeirão fumegante, era só uma sexagenária simpática que já se dedicava àquilo há muitos anos e que tinha uma agenda mais preenchida do que a da Cristina Ferreira. Tão preenchida que era difícil arranjar hora. Mas arranjei.
Depois de me perguntar sobre que aspectos da minha vida é que eu queria saber coisas, lançou as cartas e começou a despejar uma data de trivialidades . Claro que só reconheço isso agora, porque na altura pareceu-me que fazia tudo imenso sentido, que aquela senhora conhecia a minha vida de trás para a frente e que acertava em tudo o que me ia na alma. Que me perdoe quem leva estas coisas assim muito a sério e que lhes atribui um alto grau científico. Percebo (mais ou menos) quem lhes recorre, mas parece-me tudo um grande engodo, uma forma fácil de sacar dinheiro às mentes mais desesperadas.
A verdade é que quem recorre a uma taróloga ou a um profissional do género, só o faz porque está com um qualquer problema. Pode ser amoroso, pode ser profissional, pode ser familiar, pode ser de saúde. Mas há sempre qualquer coisa. Quem tem a vidinha completamente equilibrada não se mete nestas coisas. Ora quem está do outro lado sabe disto, por isso só precisa de ir lançando o barro à parede até conseguir adivinhar qual é o drama. As suposições começam por ser muito genéricas, tipo "hmmmm, a carta do Louco em conjugação com a carta da Morte diz-me que há aqui um problema" (não, a sério?). Ou "vejo que há aqui uma pessoa" (não há sempre?). Ou "cheira-me a esturro". Ao fim de três minutos é bastante provável que a pessoa já se tenha desbroncado toda sobre o motivo que a levou até ali, facilitando em 98% a tarefa da profissional da adivinhação. Depois é só fazer um bocadinho o papel de psicólogo, tentar gerir o tema, atirar umas coisas vagas assim para o ar ("vai ter de ter paciência", "o tempo ajuda", "a carta da roda da fortuna diz-me que isto se resolve") e lá vai a pessoa à sua vida, boquiaberta com o talento da "bruxa" e com menos uns 100 euros na carteira (não faço ideia a quanto é que isto está, mas geralmente é pela hora da morte).
Boooooom, tudo isto para dizer que comecei a reparar que Lisboa está forrada de cartazes de videntes. Primeiro reparei num, colado ao lado de minha casa, depois noutro, e mais outro e mais outro. Pensei "bem, querem ver que isto agora é que está a dar?". Imaginei-me logo dedicada ao negócio, tipo "Taróloga Pipoca, transforma a sua inimiga numa foca" ou "Vidente Pipoca, arruma com essa badalhoca", ou "Amiga Pipoca, ajuda-o a largar a coca", ou ainda "Cartomante Pipoca, aplica golpes de judoca". Todo um potencial que já estava a ver aqui. Mas depois de ter fotografando os vários cartazes percebi que se trata tudo da mesma entidade. Os cartazes mudam, o número é o mesmo. E é espectacular, porque uma só pessoa resolve casos amorosos, arranja uniões definitivas (com 21 formas diferentes de fazer "amarrações"), cura pessoas e ainda trabalha ao nível da união familiar e espiritual. Isto sim, é ser versátil, é gente que não tem medo do trabalho, arregaçam as mangas e dedicam-se a uma data de sectores. E em várias plataformas. Ele é búzios, ele é tarot, ele é borra de café. Muito bem, se toda a gente fosse assim não havia malta nos centros de emprego.
Deixo-vos aqui os cartazes, porque ao nível do humor isto está bastante bom, mas ai de vocês que se ponham a ligar. Quietinhas, hã? Acredito que até possam ter problemas, mas tenho para mim que uns copos e umas jantaradas com as amigas funcionam melhor como terapia do que meia hora com a Vovó Catarina.