Há dias fui jantar só com uma amiga e, durante as duas ou três horas que a refeição durou, não peguei no telemóvel. Deixei-o na carteira, em vez de o pôr em cima da mesa, e evitei assim aquela coisa horrível de estar sempre a ir ao Facebook, ao Instagram, a checar os mails, etc e tal. É um vício terrível, estou fartinha dessa dependência e queria dar-lhe toda a atenção do mundo. A verdade é que a minha resolução de ano novo, de passar menos tempo colada ao telemóvel e às redes sociais, não está a surtir grande efeito. Porquê? Basicamente, porque sou uma ratazana sem força de vontade, é isso. Mas não devia ser. Porque esta simples experiência, num jantar, fez-me perceber que muita coisa nos está a passar ao lado à conta da vassalagem que prestamos às tecnologias. Perdemos conversas, perdemos detalhes, perdemos momentos irrepetíveis, perdemos capacidade de concentração, perdemos a capacidade de nos dedicarmos aos outros por inteiro, e isso é péssimo e é triste. Parece que estamos muito mais interessados em propagandear os momentos do que em vivê-los. Eu desculpo-me um bocado: que é o meu trabalho, que não posso desligar-me, que tenho de estar atenta a tudo, mas preciso mesmo de me esforçar e de não estar tão obcecada - porque é essa a palavra - com telemóveis e iPads.
A verdade é que a forma como nos relacionamos com as novas tecnologias está a ter implicações em todos os aspectos da nossa vida. Até na forma como comemos. Na semana passada,
a convite da Activia, fui conhecer os resultados de um estudo desenvolvido em parceria com a Marktest e com o sociólogo e investigador Pedro Abrantes, professor do ISCTE, sobre os hábitos alimentares dos portugueses. E, meus amigos, as conclusões podem ser um bocadinho assustadoras. Ou então não, são apenas sintomáticas da mudança dos tempos e dos hábitos. Atentem:
a convite da Activia, fui conhecer os resultados de um estudo desenvolvido em parceria com a Marktest e com o sociólogo e investigador Pedro Abrantes, professor do ISCTE, sobre os hábitos alimentares dos portugueses. E, meus amigos, as conclusões podem ser um bocadinho assustadoras. Ou então não, são apenas sintomáticas da mudança dos tempos e dos hábitos. Atentem:
Estes hábitos e, sobretudo, estes números, deixam-me ligeiramente preocupada. Ok, o mundo evoluiu muito rapidamente, as coisas mudaram, mas será que isto faz muito sentido? Toda esta dependência em relação às tecnologias que fazem com que nem durante uma refeição consigamos desligar? E que estejamos a passar esta mensagem aos mais novos? Contra mim falo, que incorro em muitos destes hábitos, mas tento contrariá-los, sobretudo por causa do Mateus e por ver que já é obcecado por telemóveis (não são todos?).
No meio de tanta informação, nem tudo é mau. Há, pelo menos, alguma consciência: 81% dos inquiridos concorda que os telemóveis prejudicam o convívio às refeições. Mas então porque é que insistem? Para se informar (dizem 59,6%), para se distrair (36,6%) e para fazer chamadas pessoais (23,9%). Ah, e os homens são piores nisto do que nós. Segundo o investigador Pedro Abrantes, "estes dados confirmam um maior desprendimento e individualização das práticas de alimentação e de convivência, sobretudo por parte dos jovens, do sexo masculino, o que é uma ilusória prova da sua virilidade, acabando por ter consequências muito negativas, tanto em termos de problemas de saúde como em termos de enfraquecimento dos seus laços afectivos e das actividades que desempenham no espaço público, o que tem sido muito visível, por exemplo, ao nível dos percursos escolares".
Posto isto, penso que vamos ter de pensar duas vezes (ou dez vez) antes de passarmos um telemóvel ou um iPad para as mãos dos meninos quando eles se queixam que estão a apanhar seca. É a vida, no nosso tempo também as apanhámos e nem por isso estamos aqui menos frescos e fofos. O problema é que, muitas vezes, se não somos nós a dar o exemplo, depois também não podemos estar à espera de milagres. Se estamos sempre de telemóvel na mão enquanto comemos, que moral é que temos para lhes dizer que eles não podem?
Mas vale a pena espreitar mais alguns dados sobre os nossos hábitos alimentares:
Ok, nem tudo está perdido. Somos um povo que continua a valorizar as refeições, que reconhece que são um bom momento de convívio e de partilha (familiar ou social) e tentamos fazer cinco refeições por dia. Pontos menos bons: ainda haver tanta gente a saltar o pequeno-almoço (que é a refeição mais importante) e comermos demasiado depressa. Desculpamo-nos com a vida profissional atarefada, mas mais de 40% dos inquiridos também reconhecem que o uso de dispositivos móveis lhes apressa as refeições. Uma das piores consequências que resulta de toda esta rapidez são os problemas digestivos: mais de 50% das pessoas afirmam sofrem de mal-estar quando dedicam pouco tempo às refeições.
Para o Pedro Abrantes, "estes dados vêm confirmar, para o bem e para o mal, um padrão de valores e práticas mais europeus, na região de Lisboa, face a outros mais tradicionais no resto do país, tendo aqui o Porto uma posição intermédia. Na capital há, efectivamente uma maior destruturação e diversificação das práticas, associado a ritmos de vida mais acelerados e a famílias mais pequenas, mas há também uma maior consciência do risco das tecnologias à mesa". Isto porque, dos 66% dos inquiridos que têm imposições em casa para não utilizarem tecnologia na hora das refeições, 83% dos residentes da Grande Lisboa não pode ter aparelhos ligados ou em cima da mesa, enquanto no Porto apenas 68,8% adopta esta regra.
Enfim, tudo somado acho que há aqui muita coisa que nos deixa a pensar e que nos pode fazer questionar alguns hábitos que temos. Pela parte que me toca, reforço aqui o desejo de conseguir estar mais desligada das tecnologias e mais ligada aos pequenos momentos de todos os dias. As fontes de distracção são imensas, saltam de todos os lados, cabe-nos a nós pôr um travão nisso. Sobretudo à hora das refeições. É precisamente esse o mote da Activia na sua nova campanha - Refeições Felizes, Digestões Felizes - e foi também essa a mensagem que nos tentou passar na apresentação deste estudo. Todas as convidadas puderam desfrutar de um belíssimo brunch no Pestana Palace, mas acho também que todas ficaram surpreendidas (e um bocadinho assustadas) quando, à entrada, lhes foi pedido que deixassem o telemóvel numa gaiola. Acho que se sentiu o nervosismo geral, mas sobrevivemos às duas horas sem ligação ao mundo virtual. O objectivo da marca é mesmo esse, fazer passar o conceito de mindful eating, explicar que devemos utilizar o momento da refeição para desligar um bocadinho do mundo, para saborear a comida, para aproveitar a companhia ou apenas para estarmos connosco próprios e com os nossos pensamentos, sem o seres habitual. Refeições descontraídas traduzem-se em relações mais saudáveis, com menos implicações na nossa saúde e no nosso estado de espírito. Estou a pensar adoptar a ideia cá em casa ou nos jantares de amigas. Tudo sem telemóvel, tudo ligado ao momento!
Post em parceria com a Activia