Ontem foi o concerto de Tiago Bettencourt no Coliseu de Lisboa. Uma amiga já me tinha oferecido os bilhetes há muito tempo e eu queria mesmo muito ir. Mas ontem, ao longo do dia, foi crescendo em mim uma sensação estranha. Não era bem medo, talvez mais um desconforto. Menos de 24 horas antes tinham sido os ataques em Paris. Pessoas que, como eu, foram a um concerto, que estavam entre amigos, que se queriam divertir, perderam a vida assim. De forma brutal, a troco de nada. Não sei se era por eu me sentir assim, mas pareceu-me que mais pessoas estavam alerta, apreensivas. Olhava-se para as portas de saída ao mínimo grito, ao mínimo barulho estranho. Não posso garantir, mas acho que ontem todas as pessoas se perguntaram "e se?". E se tivesse sido ali, connosco, com amigos nossos? Infelizmente, não é uma realidade assim tão estranha, tão distante. Há muito que isto deixou de acontecer só aos outros. E isso faz-me ter medo do medo. Será que agora vamos viver sempre assim, nos gestos mais banais e quotidianos? Será que sairemos de casa cheios de medo de não voltarmos? Pior, será que sairemos de casa para algo mais do que as meras obrigações? Será que nos vamos anular, por medo? E porquê, para quê, por quem? Como diz a música, isto é um jogo em que ninguém ganhou. Nem ganhará. Na verdade, só poderemos perder, todos nós. De um lado e do outro. Que não esqueçamos, mas que também não vivamos no medo.
"O medo faz-nos sós."