Eu sei que têm sido muitas as novidades sobre a Maratona Solidária, mas estamos na recta final, as coisas estão a acontecer e eu quero muito partilhá-las. Ontem foi um dia muito importante e, ao mesmo tempo, um dia difícil de digerir. Fui ao IPO de Lisboa entregar o primeiro cheque da Maratona Solidária, no valor de 10 mil euros, e não cabia em mim de orgulho. É indiscritível sabermos que uma coisa pensada por nós vai servir para ajudar tanta gente. O cheque que entreguei ontem não é meu, é de todos nós, de cada um que contribuiu para esta causa. Parece conversa de jogador de futebol, aquela coisa de "ah, fui eu que marquei o golo mas foi fruto do trabalho colectivo", mas é verdade. Eu lancei o projecto, mas sem vocês era absolutamente impossível conseguir concretizá-lo. Por isso ontem lá fui, em nome de todos os nós, fazer a primeira entrega ao IPO. Custa-me muito ir até lá. Não só porque já lá perdi pessoas especiais, mas porque ver as crianças doentes dá-me completamente cabo do coração. Saio do IPO com o estômago embrulhado, com um peso do tamanho do mundo. Uma funcionária contou-me que quando foi para lá trabalhar passou os primeiros quinze dias a chorar e que andou a ganhar coragem durante algumas semanas para conseguir ir até à ala pediátrica. É normal. Quando se tem filhos é lixado, é impossível não nos imaginarmos ali, no lugar daqueles pais, no lugar daqueles filhos. É um processo duro e traumatizante, impossível não sair de lá a pedir a Deus que nos poupe de tamanha dor. Mas depois há o outro lado, que é ver os miúdos felizes. Os mais pequeninos não têm a mínima noção do que é a doença, a inocência é uma coisa boa. É normal vê-los por ali a rir, a correr, a brincar. Dentro do drama todo que estão a viver, são miúdos iguais aos outros todos. Ontem alguns juntaram-se a mim para tirarmos uma foto com o cheque (devidamente autorizados pelos pais) e foi isso mesmo que senti: era só um grupo de miúdos felizes, traquinas, queridos, a sorrirem para a foto. A doença é só um detalhe que, de vez em quando, os incomoda, geralmente na altura dos tratamentos.
Sempre que lá vou relembro-me do motivo pelo qual escolhi apoiar a ala pediátrica do IPO. Os miúdos são o nosso futuro, e apesar de os casos de cancro infantil serem relativamente raros quando comparados com a incidência em adultos, só o IPO de Lisboa acolhe anualmente 160 novos casos. São muitos casos, são muitas crianças e muitas famílias a passarem por ali diariamente. E, por isso mesmo, é preciso dar-lhes as melhores condições, tudo o que possa minimizar o sofrimento que é estar ali. O dinheiro angariado para o IPO de Lisboa será investido numa obra muito específica: o alargamento do hospital de dia pediátrico. Neste momento, só tem capacidade para acolher crianças até aos 16 anos, o que faz com que os adolescentes até aos 18 tenham de ir para junto dos adultos. Ora isto não faz sentido. É verdade que já não são crianças, mas também é verdade que ainda não têm uma estrutura assim tão forte para estarem perto dos adultos. Na pediatria, apesar da gravidade dos casos, o ambiente é mais leve, assim como o atendimento. Porque é de miúdos que se trata, requerem uma sensibilidade diferente.
O alargamento do ambulatório pediátrico permitirá passar de 12 para 15 postos de tratamento e, deste modo, receber mais 40 novos casos anualmente. Por outro lado, é preciso tornar o espaço mais harmonioso e agradável, e construir também uma casa-de-banho com duche. O custo total da obra está estimado em 100 mil euros e o dinheiro angariado através da Maratona Solidária irá directamente para este projecto. Adorava poder doar o valor total da obra, mas tenho noção que é uma missão quase impossível. Já consegui angariar 27 mil euros para o IPO do Porto, gostava de igualar essa verba para Lisboa (ou até superá-la, que sonhar não custa), por isso temos de continuar. E desde já me comprometo aqui a doar o que faltar para chegar aos 27 mil euros.
Esta obra vai melhorar MUITO o trabalho da ala pediátrica, que é fantástico e que está sempre a lutar por melhores condições para os meninos que por lá passam. O IPO de Lisboa recebe quase todas as crianças do sul do país, das ilhas e dos PALOP, mas acaba por ter pacientes de todos os concelhos nacionais. Tem a ala pediátrica mais antiga de Portugal, por isso é normal que vá sempre precisando de algumas melhorias, de novos equipamentos, etc.
Agora que sabem para que causa específica se destina o dinheiro da Maratona Solidária, espero poder continuar a contar com a vossa ajuda. Mesmo que já tenham contribuído, por favor divulguem a causa, porque é mesmo muito, muito importante. Obrigada por tudo, mais uma vez.
