Ontem estava a ler os comentários deixados no post dos biquínis para cada tipo de corpo e, como sempre, havia de tudo um pouco. Quem tenha gostado das dicas, quem ache que não precisamos de dicas nenhumas e que temos é de usar o que queremos, quem não tenha gostado que o site dos biquínis usasse sempre a mesma manequim, quem ache que devemos esconder o que temos de menos bom, quem ache que devemos mostrar tudo, etc e tal. Quando fiz o post pensei apenas no factor utilidade. Toda a gente tem corpos diferentes e acho que não há mal nenhum em querermos valorizar o que temos de melhor e, já agora, atenuar aquilo que não gostamos tanto. Não acho que esta ideia seja ofensiva, que seja um ataque à mulher, que esteja a dizer que temos de andar de burka ou evitar mostrar o nosso corpinho cheio de imperfeições. Pela parte que me toca, não vejo qual é o problema em trabalharmos com aquilo que temos. Se podemos ficar melhores, qual é o drama? Claro que não é uma obrigação, claro que não é uma imposição, claro que cada um faz o que quer da sua vidinha, claro que cada um usa o que quer, mas parece que agora está muito na moda achar que tudo o que diga respeito ao lado estético da mulher é um atentado à nossa condição, às nossas conquistas, à nossa inteligência e blá blá blá whiskas saquetas. Parece que temos de anular todo o nosso lado feminino, que nos é intrínseco, para parecermos super interessantes. Adoro o discurso do "acho uma parvoíce ter de me preocupar com o biquíni que me fica melhor". Perfeito, nesse caso podemos aplicar isso a tudo. Nem sequer vale a pena haver roupa de tamanhos e estilos diferentes, cria-se assim uma espécie de uniforme de tamanho único e anda toda a gente com o mesmo porque, claro, o que importa é o que nos vai na alma, vamos agora estar a prender-nos com futilidades e minudências, vamos agora estar a valorizar o aspecto exterior, que disparate!
Dar dicas sobre biquínis (ou vestidos, ou saias, ou soutiens) não é querer que TODAS as mulheres sejam iguais, que se rejam todas pela mesma bitola, que se pareçam com as manequins das revistas. Como é óbvio, as marcas escolhem manequins com corpos impecáveis porque, sendo certo ou sendo errado, a maioria das mulheres também gostaria de ser assim. Ou, pelo menos, gostaria de vestir aquele biquíni e sentir-se parecida com a manequim que o está a usar, que está sempre com um ar fresco e fofo, tipo "não podia estar mais feliz e confortável neste meu biquíni super giro" (mesmo que tenha fotografado em pleno inverno e com água a temperaturas negativas). É por isso que, regra geral, as marcas não usam manequins nem anorécticas (às vezes parecem) nem com excesso de peso, porque não é esse o padrão mais almejado. Se as modelos estão perto das mulheres reais? Ui, não, estão tãoooo longe. Se as marcas deviam usar mais vezes mulheres com corpos "normais"? Sim, claro (há algumas marcas que já têm modelos plus size), mas aí perdia-se o tal factor aspiracional que, tantas vezes, é o incentivador da compra. Se uma marca de biquínis usasse uma manequim com um corpo igualzinho ao meu nos seus catálogos, eu acho que olhava e pensava "eh páaaa, se é para ficar com este ar, com um tom de lula desmaiada, celulite e chicha a saltar, então se calhar não vale a pena comprar este biquíni, deixem lá isso". Se calhar é uma ideia parva, mas eu quero que as marcas me façam sonhar, não quero que me relembrem a realidade (já temos tantas coisas que o fazem). Mas, claro, depois é preciso ter o discernimento suficiente para perceber que dos catálogos para a vida real vai uma graaaaaaaande distância. Ou seja, eu quero ser assim mas sei que não sou assim e que nunca serei assim, percebem a ideia? E nem sequer me consumo com isso, não desejo o impossível, mas desejo o melhor possível. Prendam-me.
Quantas e quantas vezes não fazemos compras porque vimos uma peça numa manequim ou mesmo numa amiga a quem a dita peça ficava espectacular? Provavelmente não nos vai ficar tão bem a nós, mas é com essa ideia na cabeça que nós a compramos. E, claro, às vezes sentimo-nos defraudadas. O meu post dos biquínis ia um bocadinho nesse sentido, de explicar que não é verdade que TUDO nos fica mal (é o que muita gente sente ao experimentar biquínis), apenas temos de aprender a fazer compras de acordo com o corpo que temos. E adequar o que compramos ao nosso corpo é exactamente o oposto de seguir a padronização, é apenas tentar que as nossas compras sejam mais inteligentes e perceber que o que fica bem aos outros não nos fica necessariamente bem a nós. Porque se comprarmos coisas que amamos mas que depois não gostamos de ver vestidas, acaba por ser só dinheiro deitado à rua. A teoria do "cada um veste o que quer e acabou-se"é espectacular e, óbvio, verdadeira, mas é também muito simplista e sintomática de alguém que não liga muito a estas coisas ou que se está nas tintas. Se tem mal? Nenhum. Da mesma forma que também não tem mal preocuparmo-nos com o que vestimos e querermos que as coisas nos assentem bem, não somos mais descerebradas por isso.
Mas bom, a propósito da tal ideia de discernimento (ou falta dele) que falava mais acima, achei maravilhoso um artigo que o BuzzFeed fez e no qual pediu a seis mulheres reais que usassem biquínis e fatos-de-banho da Victoria's Secret e posassem exactamente da mesma forma que as modelos dos catálogos. O resultado é espectacular e a reacção delas ainda melhor, porque encararam o desafio de forma muito honesta e, ao mesmo tempo, divertida. Todas falam das suas inseguranças e de como tentaram sentir-se manequins por uns minutos. Mas também todas falam de como não vale a pena perderem demasiado tempo a pensar que não têm o dito "corpo perfeito" e que devem é aproveitar o corpo que têm. Deixo-vos as fotos, podem ver o artigo completo aqui: