A influência que o tempo tem em mim é uma coisa assustadora. O dia está horrível em Lisboa, chuva, vento, e uma pessoa já está com a cabeça no calor e sem paciência para estes carnavais de ter de ir recuperar botas e gabardines. Sinto-me um caco mental. Ter dormido pouco também não ajuda. Às duas e meia ainda estava acordada, às sete o despertador estava a tocar, às oito e meia já estava numa reunião que não correu assim tão bem como esperava. Fiquei logo em modo ratazana. Às dez e meia nova reunião, quando saí chovia tanto que fiquei meia hora enfiada num prédio à espera que acalmasse. Agora estou à espera da terceira reunião do dia e a tentar não me deixar consumir pelos pensamentos derrotistas. Eu tendo a ver o copo meio cheio, juro que sim, mas trabalhar e querer fazer coisas em Portugal é uma coisa tão complicada que deita por terra qualquer entusiasmo que se possa ter. É muito difícil fazer com que as coisas andem para a frente, fazer com que os outros se envolvam tanto como eu, que vibrem com os projectos, que queiram vê-los sair do papel. Tudo leva uma vida, qualquer resposta, por mais simples que seja, demora semanas. SEMANAS! E pior do que não me darem resposta é darem-me indecisões. Ainda não sei, vou ver, depois digo alguma coisa, deixa-me consultar a agenda. E, no meio de tanta indecisão (porque é que não dizem logo que não??), lá se vai perdendo mais tempo, fica tudo empancado e eu só tenho vontade de cagar e desistir. Se calhar é do tempo, mas eu, a mulher dos mil projectos, hoje estou com um humor cão que me faz apetecer desistir de todos. Se calhar estou a ser injusta, porque também há muita coisa que corre bem, que anda para a frente, que se concretiza. Ainda ontem estava no banho, tive uma ideia que achei espectacular, liguei para a pessoa certa (sim, mesmo a um domingo) e recebi uma resposta positiva. É mais trabalho que vou ter, mas é sempre bom quando do outro lado recebem as minhas ideias com o mesmo entusiasmo do que eu. Mas hoje vejo o copo muito vazio, estou desmotivada, pessimista e apetece-me voltar para a cama e só regressar amanhã, que parece que o sol já vai estar de volta. Não gosto de me queixar, mas hoje não dá para mais.
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